A previsão do tempo não sai da costa. Do
litoral. Da capital. A previsão do tempo tem um quê de colonial. Disse que há
previsão de chuva. Lá nele – pensei! Do fundo do coração. Aliás, do fundo do
pâncreas, que é mais profundo e vive para equilibrar enzimas! Aprendi ontem, no
Bem Estar. Lá nele!
Hoje tô com o ouvido apurado! Escuto esses sons
das janelas balançando! Tudo balançando! Uma pancada aqui e outra ali. Janelas
soltas. Querendo pular a janela e ir. Batem-se, se abatem e não conseguem voar.
Janelas presas.
A mais veloz das janelas é a TV. É essa coisa
disponível, ininterrupta, como uma cascata, ora com mais ora com menos
torrente! E sempre com muita pressa. A gente vai lá e colhe. Apara aquilo e
inunda a sala. Mas geralmente chove no molhado.
A previsão do tempo passou. Já esqueci. Eu
mesmo vou avaliar se a chuva vem ao longe. Se vier agora é fina, sem estrondos,
pedindo um pouco mais de pano sobre o corpo. Nem cheiro tem, forte, como aquela
de outubro, novembro… ou quando der. Agora é só esse junho em maio. Correria de
chuva aqui, nesse tempo, tem pouca chance. Porque aqui também chovisca aquela
coisa fina que nem escorre. Coisa que nem faz descer riacho! Só serve para
desembainhar casacos.
Mas na costa não. Na Zona da Mata, vez em
quando, neste período vem uma avalanche. Os riozinhos espremidos pelas cidades
caóticas, pelo caos urbano de todos os santos, pela pobreza sem eira nem beira
na beira dos barrancos, espremida pela riqueza sem noção que é então maior
pobreza… Os riozinhos rasgam o estreito, inundam as ruas, tombam para os
escombros os patrimônios. Derrepente todos estão boiando, tentando alcançar
alguma estaca para estancar o afogamento. Lá nele!
No sertão não! No sertão o couro encolhe, o
queixo treme, e as pessoas aproveitam o propício para se aninharem umas nas
outras. À noite – que de dia o sol racha! Há dias até em que é provável
encontrar neblina nos baixados, de manhazinha. E esta terra torna-se seca e
fria! E venta! Zombido nas soleiras, nos beirais! Pedaços de bagaço de tudo que
é sujeira que nos dispomos a oferecer ao mundo – como nosso mais sincero e
valioso depósito no comum – rodopiam, dançam, para constiruirem uma das principais
iniquidades estéticas de nosso tempo.
Mas a previsão do tempo passa longe disso!
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