Dentro de nós vivem
monstros, que ressonam por decênios, que são outros de nós mesmos. Aqui e ali
rosnam um pouco, mas logo logo declinam. Um dia, sem mais nem menos, uma
palavra exata, dessas que cortam profundo, nos entra pelos ouvidos e ressoa os
seus ecos nos becos do nosso ser. Apenas isto, insisto, rompe o lacre que os
oprime e os desperta do sono. E então saltam do fundo do nosso buraco negro e
sobre nossa face rubra impõem sua rostidade. E olham por nossos olhos e dominam
nossos gestos e falam por nossa boca, essas palavras tão duras a quem espera um
afago. Ainda com o sangue quente, latejando nas artérias, abandonam a
superfície e voltam para o profundo, onde se ocultam de novo. Tão rápido sua
passagem, tão grande resta o estrago.
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