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terça-feira, 28 de agosto de 2007

SERÁ QUE ESTOU DOENTE?

Josemar da Silva Martins (Pinzoh)
Professor da UNEB no DCH III

Dr. Eduardo Ferreira dos Santos, médico psiquiatra (e eu entendi que ele é também militar), atende a pessoas traumatizadas pela violência urbana. Hoje, ainda há pouco, foi entrevistado pelo Jô Soares, em seu programa. Começou a entrevista dizendo que “a violência urbana deixou de ser um privilégio dos ricos”. O Jô parece ter chegado a franzir a testa, mas mão contrariou o "Dr.", e este seguiu dizendo que, “infelizmente hoje existem muitas instituições, muitas ONGs que defendem os marginais, enquanto que as vítimas se tornaram desprotegidas...”. E coroou o raciocínio se referindo ao “Movimento Cansei”, como sendo um movimento de vítimas. Pasme! Pasme duplamente, pois não apenas o “Dr.” fez a mais simplistas das oposições entre bandidos e vítimas, equivalendo os bandidos aos pobres e as vítimas aos ricos, como seu raciocínio não mereceu um só comentariozinho de Jô. Será que deu um curto nos neurônios?

Esse tipo de entrevista me incomoda muitíssimo! Não porque se trata de uma opinião isolada de algum “Dr.”, mas porque é um tipo de senso comum, que embora seja portandor de uma estúpida pobreza de percepção, é elevado à condição de análise legítima e especializada – tanto que se torna merecedor de espaço em um programa de entrevistas como o de Jô Soares.
Eu não sei em que mundo vivem Jô e seu entrevistado, mas certamente eles não vivem no Brasil. Caso vivessem, um não pronunciaria essa aberração – “a violência urbana deixou de ser um privilégio dos ricos” – e o outro não a aceitaria impassível, a não ser que realmente tivesse ficado atônito, o que parece não ser o caso aqui.

Como assim, “privilégio dos ricos”? Não é isso que registra a nossa experiência, nem os relatos da História, nem as estatísticas sociais – que indicam que morrem mais pobres e pretos, vítimas da violência. Mas, segundo o raciocínio do “Dr.”, esses pobres e pretos morrem não porque são vítimas, mas porque são bandidos! Assim, certamente, o índio Galdino, morto por jovens “ricos”, e a empregada doméstica espancada igualmente por jovens “ricos” no Rio, o foram porque, sendo pobres, eles eram automaticamente bandidos. E os “ricos” que praticaram tais atos de crueldade, o fizeram protegidos por suas condições de vítimas. Da mesma forma as chacinas rotineiras, e os 111 presos mortos no Carandiru, e todas as formas de violência desferida pelo Estado ou pelas elites contra os pobres, na verdade, é apenas uma forma de violência de “vítimas” contra “bandidos”, portanto, perfeitamente aceitável e justificável – que as ONGs teimam em se colocar contra e defender "pobres/bandidos" como se fossem seres humanos.

Estranha forma de raciocínio essa! E mais estranho ainda é que não foi digna de um só comentário do Jô! Nem sobre isso nem sobre o “Movimento Cansei” ser um movimento de vítimas! Essa é boa! O presidente da OAB-SP, Luiz D”Urso, João Dória Júnior (entrevistador da Rede TV!), Alencar Burti (da Associação Comercial), o presidente da Philips do Brasil, Paulo Zottollo (aquele que disse que se o Piauí deixasse de existir ninguém ficaria chateado), Ivete Sangalo e seu irmão, Jesus Sangalo; Juca de Oliveira, Leonardo, Hebe Camargo, Ana Maria Braga, a ex-namoradinha do Brasil, Regina Duarte; Agnaldo Rayol, Ronnie Von, Moacir Franco e Adriane Galisteu, entre outros, são as vítimas? Coitados!!!
Por falar nisso, essa mesma turma não apoiou, por ocasião do Referendo do Desarmamento, a perspectiva de que “o cidadão” deveria permanecer armado, para se “defender dos bandidos”? E qual tem sido o impacto da vitória dessa perspectiva? Alguém quer saber disso? Alguém se responsabiliza?

Alguém, por favor, me faça um chá, uma garapa, alguma coisa, pois eu estou doente!!! O meu remédio talvez chegue com a edição de setembro da Revista Caros Amigos.