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segunda-feira, 30 de julho de 2007

VIVA O BRASIL.... E VIVA CUBA!!!

TAM, PAN, RENAN,
TAM, PAN, RENAN...
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Isso daria uma outra versão para a versão da 5ª Sinfonia de Beethoven que foi utilizada na propaganda oficial do Pan do Brasil no Rio ("pan, pan, pan, pan...") - se bem que o Renan foi o menos presente nesses dias, especialmente depois do acidente da TAN; praticamente esquecemos dele.
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Queria destacar duas coisas curiosas. Primeiramente, o Pan do Rio teve custeio que contou com uma boa bolada de recursos federais. O curioso é que isso não apenas não ficou evidenciado, como também o próprio presidente foi vaiado na abertura, numa vaia que, segundo fontes não oficiais (diga-se, não vinculadas à mídia que teve a exclusividade de transmissão dos jogos e de estabelecer sua verdade, a Globo liderando), foi arquitetada com ensaio e tudo.
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Em segundo lugar, já não basta a besta arrelia entre brasileiros e argentinos, neste Pan configurou-se uma outra arrelia, desta vez com Cuba, dentro e fora das quadras. Nas quadras os comentários - especialmente de Galvão Bueno - eram em tom de desqualificação ou de desprezo, mas sempre como se por trás das palavras houvesse uma vontade de externar uma classificação de malcaratismo em relação aos cubanos. Fora das quadras, reportagens insistiam em que os cubanos estariam desertando e pedindo exílio no Brasil, para se livrarem do "tirano ditador Fidel". Pelo que sei apenas um desses casos foi confirmado. Ontem, no encerramento, os cubanos desmentiram essa versão insistentemente veiculada pela grande mídia.
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Resta ainda uma última consideração. Claro que o Brasil está de parabens! Seus atletas fizeram bonito nas competições. Bateram récordes e deram muitas demonstrações de superação. Temos muito o que comemorar, por termos ficado à frente do Canadá. Mas há uma coisa que as arrelias alimentadas em relação a Cuba não permitem esquecer: Cuba, uma pequena ilha, pobre, bloqueada pelo imperialismo americano (com a conivência dos países e da opinião pública mundial também alinhados a esse imperialismo), arreliada e atualmente chacoteada pela imprensa brasileira, ficou em segundo lugar, à frente do Brasil. Talvez seja esse o caroço que a nossa mídia golpista (muitíssimo parecida com aquela que tentou, na Venezuela, um golpe contra Chávez) não consegue engolir. Não apenas no esporte, mas se houvessem olimpíadas de educação, de cultura e de saúde, certamente Cuba ficaria à nossa frente. Porque lá há políticas públicas!!!
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No Brasil só há esse palavrório privatista e essa mentalidade que vira as costas para a América Latina e propõe birras com a Argentina, com a Venezuela e com a Bolívia de Morales... porque preferimos achar que estamos mais próximos dos "isteites". O Brasil sempre esteve de costas para a América Latina, e durante muito tempo preferia viver com a cabeça em Paris. Agora é em Miame.
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Considere-se, adicionalmente, que os atletas de Cuba são treinados em Cuba, e não nos "isteites", como uma boa parte dos nossos. Talvez assim devamos reconhecer que os "nossos" atletas são menos nossos, e uma boa parte deles já desertaram há muito tempo. O fato é que, se temos que dar parabens ao Brasil pelos resultados e medalhas conquistadas, temos também que admitir que Cuba ficou à nossa frente.
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Cuba está à nossa frente! Por isso, viva o Brasil... e viva Cuba!
E abaixo a imprensa arrivista, conservadora e golpista!

terça-feira, 24 de julho de 2007

RELUTÂNCIAS

“Uma coisa é uma coisa,
outra coisa é outra coisa”
– Dizem os filósofos de rua
Mancos de tudo que é sorte
Coxos de tudo que é perna
Todos cagando e andando
Para a Tradição Moderna
Ou sua morte suposta
Ou qualquer uma outra bosta
Que depois dela se eleva
Entre o clarão e a treva.

Se assim é, hoje, ainda
Pois não é coisa que finda
De uma hora pra outra,
Continua sendo válido
Que “cada caso é um caso”
E “cada qual casa com o seu”.
Penso então que ainda resta
Fresta que divisa o eu
De tudo que eu não for
Apesar do turvo e breu
Que o pós-moderno ampliou.

ALGUÉM DÊ UM DESCONFIÔMETRO A LUCIANO HUCK


Josemar da Silva Martins (Pinzoh)
Professor da UNEB no DCH III (Juazeiro)

O Programa Caldeirão do Huck, sob a liderança do seu apresentador, Luciano Huck, tem se convertido é uma dessas pérolas da nossa santa idiotice que diariamente preenche a programação da TV aberta brasileira, sob a bandeira da “liberdade de expressão”. Essa fronteira confusa teve um dos seus mais significativos momentos na edição do programa supracitado que foi ao ar sábado, dia 21 de julho de 2007.

Eu cochilava no sofá, em frente à TV – meio esquecido da letra da música “Milha Alma (A Paz Que Eu Não Quero)”, d´O Rappa, que diz: "me abrace e me dê um beijo, faça um filho comigo, mas não deixe sentar na poltrona no dia de domingo, procurando novas drogas de aluguel nesse vídeo coagido, é pela paz que eu não quero seguir admitindo”. Pois que, de repente, pulo da poltrona para prestar atenção no que vinha da TV e ter certeza que eu estava acordado, e não mais cochilando. E o pior é que nem era dia de domingo, mas esse detalhe apenas nos lembra que as drogas de aluguel e os vídeos coagidos na TV brasileira não se resumem aos domingos.

Na tela o Luciano lembrava um episódio de um americano que, por ocasião do início dos jogos Panamericanos do Rio de Janeiro, havia comparado o Brasil com o Congo e, diante de tamanha ofensa (imagine!), o tal americano foi mandado de volta ao seu país. Então, anuncia o Luciano Huck, para mostrar que o Brasil (especialmente em época de Panamericano) é democrático e hospitaleiro e sabe conviver com todos (exceto com que faz tal tipo de comparação), resolve fazer uma homenagem ao Congo – ele ainda se pergunta sobre o gentílico de Congo e sugere que é King-Kong. Essa homenagem consiste em uma pessoa vestida de gorila andando pelas ruas do Rio e, segundo o próprio apresentador, esse gorila é um legitimo habitante do Congo. O vídeo do programa, para quem não o viu e quiser conferi-lo, ainda está disponível na internet no seguinte endereço: http://video.globo.com/Videos/Player/Entretenimento/0,,GIM704416-7822-UM+GORILA+SOLTO+PELAS+RUAS+DO+RIO+NO+PAN,00.html.

Quer dizer que não podemos tolerar uma comparação do Brasil com o Congo, mas, para “homenagear o Congo” nós podemos transformá-lo em algo desumanizado, para nos divertirmos à suas custas. Achei que a mensagem deveria ser para o tal americano que fez a comparação, mas o que Luciano Huck fez foi juntar-se ao americano, não mais para chacotear o Brasil, mas para chacotear o Congo – que nesse caso foi duplamente aviltado. Eu sinceramente espero que este exemplo não seja o que sustenta a defesa de “liberdade de expressão” patrocinada pelos donos e magnatas da comunicação e hoje corrente na mídia brasileira. Se for para isso só posso imaginar que essa “liberdade de expressão” não é a mesma que eu defendo, pois essa liberdade sem parâmetro e sem o mínimo de responsabilidade nos encaminha numa direção extremamente confusa.

Espero que haja um conjunto de instituições brasileiras e transnacionais, interessadas em dar a Luciano Huck e à sua equipe, um pequeno desconfiômetro, ou seja, que ele seja alertado para o fato de que, do mesmo jeito que nos incomodamos com comparações aberrantes que são feitas a nosso respeito, outras pessoas em outros países também podem se sentir enormemente ofendidas, quando decidimos rir às suas custas. Alguém tem que dizer a esse moço que ele “se toque”, que ele “se ligue”. Ao besteirol que custeia a sua vida deve ser imposto o limite da ética.

sábado, 14 de julho de 2007

PARABENS JUAZEIRO... ACORDA!!!

Eu não sou juazeirense nato, portanto não posso me portar com a mesma carga de amor que expressam aqueles que nela nasceram. No entanto, sou juazeirense! Como muitos outros que contribuem para o seu crescimento, sou emigrante vindo de Curaçá, que aqui chegou em 1990, e como me estabeleci aqui e aqui constitui família e trabalho e consumo e pago impostos para qualquer uma das atividades que exerço, não só me sinto um legítimo juazeirense, quanto me sinto apto a opiniar sobre a cidade e participar de sua cidadania. Então, é o que faço.

Quando cheguei aqui no início de 1990 e fui morar nas imediações do canal da Vila Jacaré, logo me impregnei de uma sensação de que a cidade toda fedia. Um pensamento sempre me era recorrente, estivesse eu em casa ou na rua: "essa cidade fede". Dezessete anos depois, penso que, ou os meus sentidos olfativos se acostumaram ao odor da cidade, ou ele de fato diminuiu um pouco.
Mas, de fato, os odores permanecem, por duas breves razões, entre outras: por um lado, o canal da Vila Jacaré embora tenha sido saneado em sua parte que fica dentro da cidade em quase 100%, isso não significa que seus odores tenham sido do todo extintos. Abaixo do concreto, especialmente em messes de temperatura elevada, os odores ainda se elevam por entre as fendas das vigas que tampam o canal; por outro lado, como as lagoas de decantação, que tratam os esgotos da cidade, e o Curtume Campelo (outro produtor de fétidos odores) ficam do mesmo lado da cidade, o lado leste, isso facilita que o vento sempre traga de volta os mal-cheiros que supostamente tínhamos mandado pra longe. Some-se a isso a presença de muitos terrenos baldios, mesmo perto do centro da cidade, onde os moradores costumam jogar todo tipo de "lixo extraordinário", ou seja, um gato morto, por exemplo, que não pode ficar nos vasos ou nos sacos de lixo que são recolhidos regularmente, etc. Um suma, a cidade continua fedendo!
Mas não é isso que mais me incomoda nessa cidade. O que mais me incomoda é o fato de a gente não poder dizer isso - especialmente por ocasião de seu aniversário. Festa de aniversário é assim, parece ter sido inventada apenas para elogios, incluindo em sua etiqueta a possibilidade de você ser hipócrita e tecer elogios a algo ou alguém que diuturnamente você vive a falar mal.
No dia do aniversário de Juazeiro dei uma entrevista para a TV local. Pediram-me que falasse dos "movimentos sociais" na cidade. Achei um tema vago, desses que são inventados para evitar que realmente se discuta o que é importante ser discutido, então me intrometi e sugeri acrescentar uma parte sobre a cidade, avaliando que ela continua sendo mal planejada e precisa ser muito melhorada. Falei, mesmo sob a franja na testa do repórter, mas a entrevista não foi ao ar porque foi considerada "menos importante".

Esse tipo de coisa se parece com aquelas situações em que você é um professor numa escola caindo aos pedaços, mas que, no dia em que vai haver a visita de alguma autoridade, ela maqueia sua realidade e finge que está tudo bem, e perde a oportunidade de mostrar àquela autoridade as suas reais necessidades. Em Juazeiro as coisas são um pouco assim. A cidade parece ter sido condenada a viver enclausurada no ciclo de sua caótica fundação, dentro de um buraco topográfco, na confluência de três riachos, lugar mais baixo da redondeza, que inunda com qualquer chovisco, mas não se habitou e mirar-se em seu próprio espelho. Prefere morar em suas fantasias.
Uma dessas fantasias é a que a tem como a "Capital da Irrigação". Eu, por minha vez vivo me perguntando o que é que este título tem agregado à cidade. Onde estão os louros da riqueza da agricultura irrigada? Onde é que está a marca positiva da "capital da irrigação"? Excetuando-se o surgimento de alguns condomínios privados (febre das "classes emergentes", que mais parecem ser fruto do próprio crescimento do país como um todo, e nem se restringem a pessoas ligadas ao agronegócio) a cidade em si continua inchando de periferias por todos os lados. É mais facil até ver a ligação entre essas periferias e o agronegócio, posto que é nesses bairros desordenados, sujos e fedorentos, com esgotos a céu aberto e lixo esvoaçando nos arbustos, que os trabalhadores pobres e de baixa escolarização que servem à agricultra irrigada são obrigados a viver. Fora isso, a cidade continua crescendo desordenadamente, sem planejamento, sem distribuição e ordenação dos fluxos de seu crescimento.
Os juazeirenses detestam comparações com Petrolina - e, inclusive, como forma de compensação, inventaram um velho mito de que Juazeiro é mais "poético" do que Petrolina, e que as pessoas de Juazeiro são mais amistosas do que as mais sisudas de Petrolina. Juazeiro estaria mais para a poesia e Petrolina mais para o trabalho. Poesia aonde sarará? Pode até haver algum fundo provável de verdade nisso, mas é também verdade que Petrolina tem feito obras estruturais que atrem novos negócios e permitem à cidade crescer de forma sustentável (diz-se que ela aparece entre as melhores cidades para se viver no Brasil), enquanto Juazeiro tem feito apenas obras "plásticas", maquiagens.
A transformação do cais em orla não passou disso, não há nada de estrutural, apenas maquiagem. A construção do "M", e até a construção da Avenida Luiz Inácio Lula da Silva, não passaram disso. O "M" atendeu à demanda narcísica de um de seus administradores. A avenida Lula, por sua vez, tinha tudo para ser uma obra estrutural, mas virou obra de apelo populista. E não liga nada a coisa alguma. Começa próximo à Vila Jacaré e termina num contorno na confluência entre o canal e o leito de outro riacho, próximo ao Alto do Cruzeiro, através do qual curvamos para voltar ao ponto inicial. A própria ligação com o Alto do Cruzeiro parece mais ser fruto da contravenção dos usuários, do que de algo devidamente planejado. Há algumas ligações marginais medíocres, mas não lhe foi agregada nenuma qualidade de mudança estrutural, do ponto de vista do planejamento urbano.
A Lagoa de Calu está linda mas segue a mesma linha. Por isso, não olhe para as ruas do bairro Alto da Maravilha, que lhe dão acesso, pois você pode se decepcionar - aliás, recomenda-se que, sempre que possível, acesse a Lagoa de Calu e saia dela pelo mesmo lado: aquele acesso ao asfalto de continuação da Travessa Viana, ali á altura do trevo do Lomanto, logo depois daquele posto de Gasolina. Os outros acessos lhe mostrarão que a Lagoa de Calu é uma ilha de excelência em termos de urbanização e pavimentação, em um mar de urbanização caótica.
Juazeiro continua assim! E para completar o desencorajamento à crítica, o seu aniversário é dia de puxada. E sendo puxada, tem que ter trio e corda - nem que não haja qualquer justificativa para o uso da corda (por exemplo, não haja a quem separar pela corda). Olhe a corda... Acorda Juazeiro!

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Entrevista professor Pinzoh " O PT tem errado e tem que pagar pelos seus erros..."

Filho de um agricultor semi-analfabeto e uma dona de casa, analfabeta, que foi doceira durante um tempo, Josemar da Silva Martins, cujo apelido Pinzoh foi batizado pelos colegas de sala depois que errou numa prova de História o nome do navegador Vicente Yãnez Pinzón, tem uma trajetória de vida que além de render um bom livro pode-se fazer um excelente roteiro de cinema. Nascido no sítio São João, povoado de São Bento, município de Curaçá-BA, Pinzoh estudou a vida toda em escola pública, foi servente de pedreiro, frentista, ator de teatro, aventurou-se na poesia, foi serigrafista durante anos e vendedor ambulante das camisas que pintava. Nesta mesma caminhada, entrou em Pedagogia na UNEB, fez especialização em Gestão de Sistemas Educacionais na PUC-MG, em seguida fez mestrado em Educação na UQAC, Université du Québec à Chicoutimi e antes mesmo de defender sua tese ingressou no doutorado na FACED/UFBA concluído em 2006. É professor da UNEB-Juazeiro desde 1994 e militante político desde que começou a participar de movimentos estudantis e levantar a bandeira da luta pela liberdade de expressão, igualdade e fraternidade.

Vendo esse histórico com um olhar pós-modernista poderíamos dizer que Pinzoh é um exemplo de homem que mesmo estando na roça e olhando para o sequeiro nordestino de piso rachado como algo além da natureza, visualizou também possibilidades de transformações. Não desistiu, não morreu e não deu pra ladrão. Hoje é um estudioso e questionador da forma como a mídia expõe a Educação. Enfático e agressivo (no bom sentido, claro) quando o assunto é política, não tive como deixar de abordar boa parte deste tema na entrevista com o professor Pinzoh onde ele coloca suas defesas e críticas, em parte sustentadas nas análises acadêmicas em outras pela sua prática do dia-a-dia. De Renan aos Coelhos em Petrolina segue a entrevista na íntegra.

Blog Teresa Leonel- Existe uma imagem propagada de que a educação é o único caminho pelo qual o Brasil pode mudar, ou melhor, desenvolver. Isso é genérico? Qual a sua avaliação?

Josemar da Silva Martin - Pinzoh - Eu fico com a opinião de Sérgio Buaque de Hollanda constante no livro Raízes do Brasil, do início do século XX, onde ele critica – já lá – os “pedagogos da prosperidade”, que se apegam a soluções onde se abrigam verdades parciais e as transformam em requisito obrigatório e único de todo o progresso. O problema é que, quando a gente pronuncia “educação”, em geral está dizendo “escola”. Certamente a educação é a chave para irmos melhor em muitos assuntos, mas desde que a encaremos como algo mais amplo. Pensemos bem: mirando o tamanho do paradoxo da sociedade que vivemos, dá para falar que “escola” resolve alguma coisa isoladamente? Os meninos de classe média que queimam índio em ponto de ônibus, achando que é mendigo (como se isso justificasse), ou espancam empregada doméstica achando que é prostituta (como se isso justificasse), ou matam o pai ou a mãe etc., por acaso eles não têm educação (escolar)? Então que “outra” educação lhes falta? Por acaso as outras instituições sociais, os profissionais liberais, os comunicadores, os políticos, estão preocupadas em educar? Será que não vivemos numa sociedade em que a própria família esqueceu de educar? Será que já nos tornamos reféns de nossa própria ilusão de liberdade – que no fim das contas não passa de liberalismo de mercado? Além disso, dizer que a educação resolve tudo, não é uma forma de desviar a atenção para as reformas de base? Nós estamos de acordo com uma Reforma Agrária ampla! Nós estamos a favor da taxação das grandes riquezas? Nós de fato queremos dividir riqueza? Ou nós apenas estamos satisfeitos com o dinheiro que ganhamos e com as prisões domicialiares que com ele podemos construir para nelas morar? Todo mundo ganha dinheiro e gera problema; depois a gente diz que é a educação que tem que resolver esses problemas. Esse é o problema! A educação continua sendo vista de modo restrito; é grande nos discursos mas não passa de pano de chão nas práticas sociais! Há até preconceitos contra ser professor. Exemplos não faltam!

Teresa Leonel- Como professor e vivenciando o debate Acadêmico sobre as diversas formas do exercício da nossa democracia, na sua opinião o PT (Partido dos Trabalhadores) mesmo depois do desgastes em relação aos escândalos sucessivos, ainda é a melhor opção para consolidar esta democracia?

Pinzoh - Eu não sei se o PT é ainda a melhor opção. O que eu sei é que a sigla PT virou bode expiatório. Quando a gente vai falar de corrupção a gente diz “corrupção do PT”. Eu sou sabedor das mutretas do Renan desde antes dele apoiar Collor (como político ele esteve sempre do lado do poder). Mas quando a mídia toca nisso (incluindo as “meninas do Jô” e o Jabor) parece estar vinculando a sua corrupção ao governo do PT. É como se a gente desconhecesse o elevado grau de corrupção de nossas elites. É como se um Coelho, por exemplo, nunca tivesse praticado coisa similar aos casos que agora Renan permite expor. É como se a gente esquecesse dos Anões do Orçamento e de outros tantos escândalos.Eu ando muito decepcionado com o PT e espero sinceramente que a gente aprenda a fazer política de um outro jeito, que a gente disse que seria possível. Mas não aceito que um Arthur Virgílio venha pousar de paladino da moralidade; que um ACM Neto vire príncipe da ética – aliás todos nós sabemos que ACM e sua família também enricou com procedimentos similares aos de Renan, e de Jader Barbalho, e de Hildebrando Pascoal, e de João Alves etc. etc. etc., mas parece que ignoramos isso. Pelo amor de Deus! Aliás, o principal problema em relação ao Renan é que ele disse: “se é pra investigar, então vamos fazer uma investigação ampla”. Aí todo mundo gelou! Quem quer isso? E sabem porque o ACMzinho não está todo dia na mídia? Não será por que também apareceu nos registros da Operação Navalha? Mas o foco numa única pessoa ajuda a esquecer outras, não é mesmo?.

Teresa Leonel – Por que os petistas aos serem abordados sobre os escândalos políticos dentro da própria base do partido ficam sempre comparando e justificando os escândalos com os governos anteriores?

Pinzoh - Talvez seja para dizer ”atire a primeira pedra!”. Talvez seja para lembrar de nossa cordialidade (nos termos também de Sérgio Buarque de Hollanda) sempre flertou com o poder público para permitir o proveito próprio, o nepotismo, o fisiologismo, o apadrinhamento. Porque o curioso é que todo mundo faz isso. Dúvido que não haja caixa 2 nas campanhas em Juazeiro e Petrolina. Duvido que não haja os mesmos tipos de negociatas. DU-VI-DO! E quero é prova! Quero saber, por exemplo como é que o PFL custeava a compra de votos nos sertões, como caçamba de areia, como filtro caseiro, com óculos e dentadura? Quero saber o que foi a “Indústria da Seca” que vampirizou a SUDENE a ponto dela ter que ser desmontada? Quem fez isso? Foi o PT? Você nunca deu alguma gorjeta a um guarda ou policial rodoviário? Eu já! Numa situação onde era impossível não dar. E nem era porque eu estava ilegal, era porque a força não estava do meu lado. Presencio isso o tempo todo em viagens nas estradas de Pernanbuco, da Bahia, de Sergipe, de Alagoas... Por que a gente não faz o que Renan sugeriu? Vamos abrir a conta de nossas consciências, a gaveta de nossa ética com a coisa pública?

Teresa Leonel – Não foram os petistas que sempre defederam as badeiras da moralidade, da ética e da não corrupção?

Pinzoh - Não foi só o PT que fez isso. O PT tem errado e deve pagar pelos seus erros, principalmente pelos que continua a cometer. Mas é bom lembrarmos que desde que eu me entendo por gente; desde que leio... que vejo a elite empostar a voz para falar em moralidade, para defender “a moral e os bons costumes”. Ou estou errado? Você nunca viu/ouviu isso? Essa é a mesma elite que no âmbito oficial aparece empecável, com inabalável retidão de caráter, e é também a mesma elite que, fora dos holofotes da aparição pública, é promíscua, adúltera, incestuosa, preconceituosa, inescrupulosa e corrupta. Toda a nossa “nobreza” foi promíscua, especialmente com a coisa pública, e, no entanto, sustentou sempre um discurso moralizante. Não esqueçamos que Collor, por exemplo, foi eleito com o discurso de que “caçaria” os marajás, quando ele próprio era um marajá, que era sustentado pelos marajás e se portava como um marajá.

Teresa Leonel – E falando em ética, o senhor defendeu em um dos seus artigos sobre Ética e Comunicação que a palavra “ética” ainda é muito confundida e vulgarizada para nomear “código de conduta” de determinados grupos humanos. No caso específico dos políticos e do Partido dos Trabalhadores o que se pode e deve ser aplicado?

Pinzoh - Eu não imaginei que esta entrevista fosse sobre o PT. Mas, vamos lá! O que eu disse no texto, que está em meu Blog, (http://blogdopinzoh.blogspot.com/2007/03/tica-e-comunicao.html), foi que ética ainda é confundida com ética corporativa, por exemplo, quando falamos em “ética médica”, “ética jurídica” ou “ética jornalística”. Na verdade, em geral esses exemplos se tratam de códigos deontológicos, de códigos corporativos de conduta. Prefiro pensar a ética para além disso, fazendo froteira com a esfera pública, que excede o âmbito corporativo. Agora, se você quer discutir a ética dos partitidos políticos (incluindo o PT), podemos até discutir, desde que outras siglas possam compor seu repertório de referências. Pode ser?

Teresa Leonel - O senhor contestou a análise sobre reforma política feita pelo publicitário e marketeiro Zé Nivaldo postada neste blog (04/07) dizendo que o mesmo desdenha de sua importânica. Na sua opinão de que forma as campanhas políticas deveriam ser realizadas ou formatadas?

Pinzoh - Sou amplamente a favor de limitar o uso de propagandas (como aliás já se fez na última eleição, o que, ao meu ver, melhorou muito o perfil das campanhas). Seria uma forma de, por um lado, evitar que se fabricasse um perfil meramente fictício, cuja finalidade é meramente a enganação dos eleitores. Por outro lado, esse trabalho é feito pelo marketing político (um dos principais meios de gestão dos caixas 2). Então, limitando isso estaríamos limitando também uma parte das falcatruas. Sou a favor do financiamento público das campanhas, e do estabelecimento de um sistema rigoroso de análise das contas de campanha. Mas desconfio que uma boa reforma não saia a não ser que houvesse uma constituinte de “não políticos”, apenas para legislar sobre questões onde os políticos são extremamente corporativos e advogam em causa própria.

Teresa Leonel - Agora virando a mesa, qual a sua opinião sobre o papel da mídia em relação a divulgação dos escândalos políticos e apuração dos mesmos para manter a sociedade bem informada? A sociedade está sendo bem informada?

Pinzoh - Eu acho que:1) grande parte da mídia não tem isenção porque está na mão de uma elite comprometida até o pescoço com esses temas e essas mesmas tramoias (aliás, quem da imprensa apoiaria uma CPI da Comunicação – que desvelasse os modos como se estabeleceram e ainda se estebelecem as maiores concessões?) 2) liberdade de imprensa, na maioria dos casos, só existe para quem é dono da empresa de notícias; 3) mesmo assim uma grande parte dos jornalistas “se acha”, ou seja, pensa que “é livre” e que mais ninguém entende de nada. Muitos dizem um monte de aberrações como se fossem a verdade e ponto; 4) aquilo que a gente tem chamado de “a sociedade da informação” tem se traduzido na sociedade da desinformação; do blefe, do “copy and paste”... Nesse sentido não posso achar que a sociedade está bem informada. Ela está confusa. As novas gerações não conseguem formular uma idéia do mundo, além daquilo que vêm nos programas bobos das rádios, das TVs, das revistas de fococa ou nas vitrines e nas relações meramente consumistas e capitalísticas. Analise o conteúdo dos veículos de comunicação de Juazeiro e Petrolina (com poucas exceções) e você mesma pode responder a essa pergunta. Ainda bem que tem gente que consegue viver e se informar para além dessa fronteira!

Teresa Leonel - A mídia também está sendo passada a limpo. O senhor acredita que a nossa forma de noticiar, hoje, tem mais a ver com o espetáculo do que propriamente com a informação?

Pinzoh - Não sei se a mídia está sendo passada a limpo. Só sei é que temos uma mídia de péssima qualidade (com exceções), onde tudo virou espetáculo. A morte, o sexo, a intimidade, a pobreza, a corrupção. Tudo é espetáculo. Tudo é lançado para o jogo das audiências. Aliás, você que vive dentro dos meios de comunicação, pode falar melhor de como se estabelecem critérios para os programas, para as pautas; de como o índice de audiência virou uma paranóia e justifica programações extremamente idiotas. Há duas obras que acho boas para nos falar do que ocorre agora: “A sociedade do espetáculo” de Guy Debord; e “Simulacros e Simulação” (e outros escritos), de Jean Baudrillard. A mídia hoje é isso, com raríssimas exceções.

Teresa Leonel - Gostaria de fazer algum comentário específico?

Pinzoh - Queria acrescentar que eu sou filiado ao PT. Não me envergonho disso. Fui um dos fundadores do partido em Curaçá, lá pelos idos de 1986. Fizemos várias campanhas sem um tostão furado, recolhendo contribuições de centavos, fazendo cartazes em papel madeira e colando com cola caseira feita com soda; fazendo bottons e pintando camisetas com serigrafia caseira e vendendo tudo isso para fazer outros dinheiros para repetir todo o processo. Nunca ganhei um centavo em campanhas, pelo contrário, sempre botei dinheiro, sem pedir nada em troca. Nunca vivi de cargos públicos. Sempre fui professor concursado. Ultimamente tenho também feito palestras, seminários, assessorias para algumas prefeituras – inclusive em Curaçá, onde sou um dos autores da Proposta Pedagógica para as escolas municipais (atualmente não utilizada). E me orgulho muito disso, de nunca ter precisado baixar as calças para algum político. Essa autonomia muitos jornalistas não têm, porque seus patrões, com suas relações duvidosas, lhes tolhe a liberdade! E isso eu não invejo!

Quanto ao PT, este aprendeu a fazer o jogo que as velhas elites sempre jogaram – e isso me entristece. Nada justifica. Tenho sido um crítico dessas novas práticas do PT, principalmente do modo como atualmente as tendências e o critério de BU (Boletim de Urna) têm sido usados para praticar o patrimonialismo e privatizar a esfera pública em seu poder. Por um lado, as práticas pregressas dos outros partidos não justificam essas posturas do PT, tampouco algum partido pode dizer que não faz ou fez isso. Por isso, ver a elite pousando de defensora da ética, “da moral e dos bons costumes”, é algo que me deixa profundamente irado.

Por fim, obrigado pela oportunidade da entrevista e espero que você me permita postá-la também em meu blog.

OBSERVAÇÃO:
Esta entrevista foi dada à jornalista Teresa Leonel, para o seu Blog. O título que ela preferiu dar à entrevista expressa um dos recursos mais utilizados pela imprensa para produzir um determinado efeito e sentido, logo na chamada. Eu realmente disse que o PT tem errado e tem que pagar pelos seus erros, mas se eu fosse dar um título ou fazer uma chamada para esta entrevista, teria utilizado outro fragmento de minhas respostas.

Confiram no Blog de Teresa Leonel (http://teresaleonel.blogspot.com/2007/07/entrevista-professor-pinzoh-o-pt-tem.html)