O que se espera de um poema depois do amor?
Que ele contenha os sussurros, os prazeres
Os dizeres da hora mais lânguida?
Que ele minta, poema de quinta
Numa quinta-feira?
Que ele faça a feira, marido assíduo?
Ou que ele rasgue o verbo,
como se arrancasse a roupa íntima?
Preciosíssima: esmeralda, turmalina, ametista
Que cintila entre o verde e o safira.
Se amor houve, o sexo, o gozo
O que mais ouso num poema acrescentar
Além de uma carícia em forma de promessa
Ou um mero marco a ninar lembranças?
Um poema que pode nos dizer dessa loucura nossa
Quando me deixas, sem bossa, beijar o céu da tua boca
A língua solta, a voz tônica, quase rouca
Que me dedico a sorvê-la e daí varrer estrelas
Com sabor de pecado recente.
Poema pra lhe lembrar, leve e solta, como bola de sabão,
De quando desceu do salto e assaltou meu coração.
E o que mais posso fazer?
A não ser comer teus olhos de rubis escuros
A não ser mentir futuros
Inventar sonhos de vida
Sobre a pedra endurecida do viver.