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domingo, 24 de outubro de 2010
olhos de turista
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
FÁBRICA DE POEMAS
é lavrar a palavra no corpo,
corporificar metáfora no gesto,
grafar desejo na pele nua...
(Ah, meu Deus! Eu não posso ficar lhe mandando poesias, pra não arranhar o seu corpo com minhas metáforas)
Mas se quer mesmo se arriscar...
Primeiro um papel em branco,
um instrumento que rabisque
e uma idéia em deriva...
invente!
Faça de conta que é brincadeira
e recorte palavras, e monte seqüências
e jogue com os sentidos duplos
e com os efeitos fortes,
daquelas palavras que cortam
como navalha, gilete e machado
posicione os pesos diferentes
quando a questão for fazer sentir
e rasgue o verbo
e borre adjetivos límpidos
tudo é uma questão de desencanar
– até o gozo!!!
e de fricção também...
E se for preciso leia Leminski
e tire faísca de pedra
(por puro prazer da fricção)
(Se for o caso me peça ajuda!)
BESTA
noite, noite, noite,
pra que tanta pressa
de passar por nós
se este é meu momento
e se uma noite é pouco
pra ficar a sós
se tudo que pensei
tudo que sonhei
pra dizer agora
soa diferente
soa inadequado
e indo vão-se as horas
preciso dizer
arranjar um gesto
sair do impasse
por isso que peço
que pare o universo
que a noite não passe
que não venha o sol
que não venha o sono
que o tempo estacione
que o papo não mingue
que eu tenha coragem
de dizer o teu nome
no meio das coisas
que eu digo que amo
nomeie a fissura
que eu digo que sinto
declare o desejo
que por ti carrego
tropeço nos gestos
disfarce, embaraço,
e a noite correndo
as horas se indo
o papo cessando
o sono chegando
o que há comigo?
são coisas tão simples
que tenho a dizer
sei que não machucam
que não vão doer
sei que são afagos
sei que são sinceras
e porque não digo?
e por que reluto?
sofro antecipado
e antes de dizer
algo me atormenta
torna-me um culpado
e enquanto isso
enquanto me acanho
outros são velozes
logo te abocanham
violam os instantes
atropelam tudo
e eu com essa mania
de achar um jeito
de ser bem sutil
não assustar tanto
escorrego sempre
nas horas que passam
que há nisso tudo
que me assusta tanto?
um não, um talvez?
um sim, por enquanto?
uma longa história?
um amor rebento?
antes que eu desista
antes que seu rosto
se perca de vista
antes que amanheça
digo de uma vez
que eu quero, que eu topo,
que eu amo e sou besta.
DANÇAR
Retirar dos ombros este peso dos dias
Esquivar-se do tumulto das ruas
E dançar!
Dançar pra pedir perdão
Dançar pra pecar também
Dançar em forma de prece
Para essas crianças sem rosto
Desalmadas, desarmadas...
Dançar em forma de reza
Contra essas balas perdidas
E contra os mísseis de guerra
Sabe Deus não veja encanto
No fraseado de passos
Pois se Deus nem desencanta
Nem a gente desencana,
– Eis outra forma de dança!
Certezas duvidosas
De um dia se quebrar
Parece uma coisa frágil
E tem fazes como a lua
Ora cresce, ora míngua
Quando cresce é algo claro
Mas claro que há escuros!
E se míngua a face turva
Mas resta réstias de luz
Nalgum ponto reto ou curvo.
Certeza é coisa que cega
A dúvida quase esclarece
É como uma meta-prece
Sem um santo definido
Mas cujo jeito é aquele
Que ninguém acaso disse
Mas doutro jeito não serve.
Será certo ter certeza?
É duvidoso estar certo?
É complicado, é complexo
Como se diz hoje em dia.
É preciso o afastamento
Para mirar doutro ângulo
Não se vê bem, bem de perto
Parar para por suspenso
O certo que de tão certo
Já se tornou desonesto.
Agite antes de guardar
Que a vida nasce na cova.
Faça já seu sacrifício
De criar a diferença
Da cor, do amor, da crença....
Bom filho é o que a casa deixa
Sem queixas, sem desaforo
Que deixa a casca do ovo
Sem amassá-la, sem furos
Bom homem é o que tem pecados
É o que erra, é o que berra
Chora, mama, arrota e reza.
Bom discípulo é o que xinga
Se a topada lhe castiga!
PROPOSTA
Beijar o céu da sua boca
Abraçar sua voz rouca
E varrer de lá todas as estrelas
Como sabor de pecados recentes.
Colorir seus sonhos com a minha mão
E te fazer leve e solta
Como bolas de sabão
Pronta para renascer
Livre como sonho de vida
Sobre a pedra endurecida do viver
QUASE
ERA PRA SER DE FATO E VIROU LETRA
ERA PRA SER POEMA
E NEM ISTO LOGROU, O QUE RESTOU
ANTONIO NASCIMENTO
A população foi convocada a se reunir à margem direita do riacho do Jaquinicó, no local onde passa a estrada que vai de Patamuté a Curaçá, no trecho entre a escola de Baiana e a casa grande de Né Pereira, exatamente ali entre as cacimbas de Antonio Pereira e de Zé de Souza, à sombra das enormes caraibeiras que existem ali. Não lembro a data, o mês, o ano, mas tava quente e tinha muita gente. Todo mundo, com todos os seus, homens, mulheres, meninos, cachorros, velhos, zambetas e zaroios, a pé, a cavalo ou de jumento, com lágrima, suor, berro e bosta de guri e todos os cheiros possíveis, estavam ali, disputando sombra e entortando a fila, que era longa, caótica e zuadenta. Uma das vacinas fazia pequenos furos no braço esquerdo, próximo ao ombro. Sangrava, doía e a meninada abria o berreiro. Parecia um ritual de tortura. E ao mesmo tempo uma festa. Tinha gente vendendo umas garrafinhas de plástico com refrescos coloridos, vindo da rua, que a gente cortava a ponta e se deliciava. Era pra ser gelado, mas na verdade, tanto fazia. O gelo dava dormência na boca e até dava um dor aguda na testa. Chega tinia! Falta de hábito. Tinha gente vendendo bolo, doce. Gente gritando com menino, puxando orelha e dando cascudo em público. Tinha até lambreta. E muita conversa! Aliás, muita zuada.
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ERA ASSIM QUE ERA
O ritual seguinte era soltar a todos e encaminhá-los a algum pé de juá ou caraibeira, que fora desramado para amparar a escassez de verde na alimentação dos animais. Ainda era preciso voltar em casa e moer o milho que fora posto de molho na noite inteira, aparar o leite que gotejava do moinho manual, fincado num dos lados da cozinha, peneirar a massa, separar a fina da grossa, o xerém, e encaminhar a primeira parte para o cuscuz e a segunda para o angu.
A terra, mexida, removida, escavada, arada, exalava seu cheiro de cio. As plantinhas concorriam com as minhocas e esbugalhavam o casco duro do chão. A erva nova dava caganeira nos animais. Mas logo, logo haveria pêlo fino nos marrões.
DIA E NOITE
como o rio, o tempo é sempre adiante.
só eu pareço parado, franja na testa, idéia tesa!
ouvindo escorregar o tempo como as águas
e algo, porém, em mim, é radiante.
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eu ouço o tilintar metálico das horas
eu sinto o palpitar da terra se movendo
perscruto até o ranger das nuvens lá no céu
outras coisas nem com esforço entendo
como um alarido que há aqui na vizinhança
que eu não cogito razão de existência...
ou a xaropice dos barulhos da cidade
que vazam até mim pela fresta da janela
e gastam até um pouco a minha tolerância
mas, por hora só sei do zumbido maior dentro de mim
este sim, exige dose maior de paciência.
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acho que sei que a vida é assim
um labirinto largo, que dura a vida toda
e que só à noite a alma se liberta
e até flana em passeios que não conto.
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penso que um outro eu de mim se desprende
para rondar os becos da cidade
até achar um deles que leve ti
para ter, assim, notícias suas
e vira esquinas e dobra ruas
e volta a me dizer que dorme em paz,
que tem os olhos bem fechados
e um riso inciado na boca entreaberta
e quando a manhã vem e me desperta
eu tenho a sensação de ter sonhado.
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assim vivo, dessas sensações pequenas
desses pequenos acenos dos seus olhos
dessas mentiras que invento pra mim mesmo
pois dentro de mim só o que existe é ermo
o tempo extenso, o dia quente e longo
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já que nessa confissão eu escorrego
aproveito então e digo logo
que só em sua promessa e eu já me afogo
um meio sorriso seu, e eu já desabo...
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e espero o tempo, rio que nunca pára
que me promete que quem espera alcança
promessa esta que em mim balança
pêndulo do tempo, e apenas isto!
e se nem assim isto me cansa,
assim também, afirmo, eu não desisto!
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LIÇÃO DAS URNAS 3
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Naquele tempo não se falava em corrupção porque não havia tribunal e PF para investigar, denunciar, julgar e punir. Em tempos de eleição a corrupção corria solta. Voto que não era de cabresto, fruto da intimidação ostensiva, era comprado com filtro caseiro, caçamba de areia, dentadura ou ligadurra de trompas (que diga como isso funcionava o ex-deputado Pedro Alcântara) e até uma ambulância para levar um doente de uma cidade a outra, viarava um favor que era pago com voto.
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Os jovens de hoje, os que se encantam com um cara como Serra usando emblema de "ficha limpa" ou os que votaram em Marina "em nome da ética", todos os que pensam que a corrupção foi inventada hoje e pelo PT, não sabem da missa um terço. Tempos de corrupção para valer mesmo eram aqueles, principalmente porque não havia quem julgasse. E quem ousasse denunciar ou era morto ou exilado! A coisa pública era extensão da casa do mandatário. Os carros da Prefeitura de Curaçá, por exemplo, serviam para o filho do prefeito dar "cavalo de pau" e comer água e mulher em Juazeiro. Tribunal de contas? Contas reprovadas? Quem ouvia falar disso? A SUDENE, a SUDAM, o DNOCS, os órgaos oficiais que deveriam servir, por exemplo, para implementar o desenvolvimento de regiões como o Nordeste e a Amazônia, eram sugados, vampirizados em favor dos oligarcas da política brasileira, baiana, nordestina. Era um paraíso!
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Lembrando disso venho aqui comemorar, mais uma vez, os resultados destas eleições. Pela primeira vez, sem cabresto algum, sem intimidação (exceto a da boataria que os marqueteiros colocaram em curso para difamar uns, como sendo do mal, e privilegiar outros, como sendo do bem - esse anacronismo da comunicação eleitoral que só rebaixa o nosso senso comum), as pessoas foram às urnas, votaram e se posicionaram de forma surpreendente nestas eleições. E o resultado foi formidável. Fico enormemente feliz em ver um Marco Maciel (um dos gagás da política brasileira, que começou sendo político biônico) derrotado nas urnas. Uma leva inteira de velhos políticos, acostumados com o velho e anacrônico jogo da política foram derrotados: Marco Maciel (DEM), Heráclito Fortes (DEM), Jorge Bornhausen (DEM), César Maia (DEM), Mão Santa (ex-PMDB), Arthur Virgílio (PSDB), Tasso Jereissati (PSDB), Paulo Souto (DEM), Cesar Borges (PR)... Aliás, o DEM está em extinção! As velhas raposas que vinham desde o ARENA 1 e 2, depois, PDS, depois PFL e agora DEM, vendo a canoa afundar, estão pulando fora e vestindo roupa de cordeiro. Uma parte deles foi acudida pelo PMDB de Geddel, o novo pretendente a coronel que a Bahia tem. Mas mesmo assim o naufrágio prossegue!
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Enfim, muitos velhos coronéis, oligarcas da política brasileira, beneficiários e herdeiros da Ditadura Militar, ícones da antidemocracia e de uma política restritiva, ameçadora e corrupta - que agora pousavam de "paladinos de ética na política" - foram todos derrotados! Eu achei isso tudo uma coisa fantástica! Acho que, aos poucos, o povo está se emancipando. Claro, que ele ainda não está isento das muitas e novas formas de manipulação. Mas que a democracia está avançando, está! O Brssil está pasando por uma fase nova, mais inclusiva, mais democrática, mais livre! Claro que temos problemas, e a corrupção é um deles. Mas isso vem de longe e já foi pior! Começou com a corja que veio com D. João VI, enconstada na coroa, comendo, bufando e reclamando! E continuou nos diversos golpes que o país sofreu! Hoje há imprensa livre, há tribunais, etc. Não estamos mais sob a égide de medo! Em relação à corrupção ela é um problema nosso, de todos nós que temos que exorcizar! A cordialidade do "jeitinho brasileiro" não passa de um disfarce do patrimonialismo. É aí que nascem todas as corrupções, quando aquilo que é público é apropriado por alguém como sendo coisa privada. Mas, sobre isto, não serão os velhos oligarcas que nos vão ensinar! Eles não têm nada a nos ensinar sobre democracia e honestidade política. Eles não sabem o que é isso, acreditem, porque nunca viveram! Estavam refestelados no poder este tempo todo, desde que o cão era menino, dificultando a passagem para tempos melhores. Por mim eles já vão tarde!
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Que os novos políticos saibam onde colocam os pés, afinal, mesmo em um tempo como o nosso, um tanto desmemoriado, o passado ainda tem muito a dizer. A democracia depende de uma tradução da história. Assim como depende de ações renovadas pelas exigências do presente, olhando o futuro e seguindo adiante, e não mais ficando preso ao anacronismo das velhas raposas! Sigamos adiante com a democracia - afinal ela ainda é jovem. E que os jovens saibam o que isso significa!
domingo, 17 de outubro de 2010
O JOGO SUJO DE SERRA
http://www.rodrigovianna.com.br/geral/exclusivo-dona-da-grafica-e-do-psdb.html.
Veja também neste mesmo link que a dona da gráfica que produzia planfletos caluniosos contra Dilma é do PSDB! Confira, reflita e se decida!