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sábado, 12 de setembro de 2009

SUSPENSO

(SEGUE O TEXTO ABAIXO, QUEM QUISER PODE PONTUÁ-LO, CORRIGI-LO, POIS EU FI-LO PORQUE QUI-LO)

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não é grande

mas essa atriz tem uma voz massa

agora sou só ouço o som

e um veludo comprido

no verso

perdi o passo

meu passo

pode até perder um ésse

que eu sigo aceso

não cesso

diz a língua que esse S não existe

êsse ésse

não é grande

o meu conhecimento disso

tenho pra mim que o erasmo

tá melhor que o roberto

berra um cabrito

e nesse horário eu já não presto

amanhã talvez penso nisso

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(OBRIGADO A QUEM FÊ-LO)

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

TUDO ENFIADO NA HIPOCRISIA


Josemar da Silva Martins (Pinzoh)
Professor da UNEB no DCH III (Juazeiro)

Consta que uma professora por nome Jaqueline Carvalho, que lecionava no Colégio Objetivo em Salvador, para crianças de 5 a 7 anos, foi demitida da escola porque, num show de uma banda chamada “O Troco”, ela subiu no palco e dançou uma música chamada “Todo Enfiado”. Ali por perto estavam vários malas, praticantes indiscretos do voyeurismo, equipados com celulares com capacidade de filmagem. Gravações em vídeo em baixa resolução (aliás, a baixa resolução é perfeitamente coerente com o contexto em questão) foram parar no Youtube, pois o atual voyeurismo tecnológico sempre resulta nisso. Os vídeos “bombaram” e a professora teve que se explicar na escola e acabou sendo demitida e tendo que se mudar do apartamento onde morava com a filha.

O contexto é o seguinte: a banda é apenas uma entre milhares que, na falta de capacidade lingüística e espaço social para explorar outros universos de sentido, atua na linha abaixo da cintura. As letras das músicas, a exemplo da música em questão, são as pérolas da Novíssima Música Popular Brasileira – considerando que esse tipo de estética musical não se resume à Bahia – e exploram expressões de escatologia e escracho que são muito bem aproveitadas pela indústria do entretenimento no Brasil inteiro. Com este tipo de material, muitos canais de TV, muitas rádios AM e FM, principalmente, fazem a sua audiência, e amparando esse negócio, que tem a audiência como critério principal, muitos empresários corroboram com esta realidade ao escolherem justamente tais formatos estéticos para veicularem suas propagandas e sua publicidade institucional. Que merda!

Antes de qualquer coisa, uma constatação: quase todo mundo está interessado nesse negócio, ganha dinheiro com isso, inclusive ampara tais escolhas estéticas e econômicas com justificativas do tipo “liberdade individual”, “liberdade de expressão”, “gosto popular”, etc. Claro que não sabemos mais o que significam tais coisas, mas isso não deixa de operar justificativas para todo tipo de atividade espúria, no entanto, em geral não questionável, pois nem sabemos mais por onde começar um questionamento disso.

Tenho acompanhado a repercussão, a professora tem participado de alguns programas de qualidade similar ao episódio, já alcançou seus 15 minutos de fama, dizem que está recebendo propostas para entrar em uma banda, como dançarina, e outros especulam se a Playboy estaria interessada nela, para pousar pelada. Eu por mim acho que ela não tem calibre para tanto. Mas não duvido que ela chegue a ser apresentadora de programa infantil na televisão, pois parece ser assim que a coisa tem funcionado, no ritmo do “tudo enfiado na hipocrisia”. Mas nossos argumentos é que são péssimos! No final das contas, apenas a professora é que é julgada. Uns a perdoam, outros a execram. Isso tudo não sai do senso comum mais rasteiro. Em geral os argumentos esbarram em três formas básicas:

a) A primeira forma é do argumento de puro relativismo niilista, que não é “nem contra nem a favor, muito pelo contrário, quanto mais principalmente, tanto neste caso quanto noutros, se bem que cada caso é um caso” – forma esta que não é senão uma forma charlatã, proselitista e dissimulada de não dizer nada, exatamente porque não sabe e não tem o que dizer;

b) A segunda forma é a do argumento acadêmico, hoje muito próximo da primeira forma, pois também os intelectuais se demitiram da função de oferecer alguma possibilidade de interpretação do mundo que se destaque pelo menos um pouquinho da média atingida pelo senso comum – a maior parte dos intelectuais hoje se contenta com um “quem sou eu para julgar seu ninguém” ou com um “isso é representativo das formas autônomas do povo viver e se divertir”, como se já não houvesse uma vampirização dessas “formas autônomas” do povo viver e gozar;

c) A terceira e última forma é a do argumento moral, transversal a todas as outras formas, que acha que algumas categorias de pessoas não podem viver como as demais, nesse caso, uma professora, apenas ela, não pode sair por aí mostrando a bunda, quando todo mundo mostra e convoca a mostrar; como se os “aluninhos” da professora já não estivessem infestados por esses conteúdos, que estão na rua, nos porta-malas dos carros, nos bares, na praça, nas festas de largo, na TV, nas rádios e em todos os lugares, muitas vezes sustentados com dinheiro público destinado à cultura. Por que é a professora que tem que pagar o pato sozinha? Por que apenas é dos professores que se cobra a responsabilidade de dar bons exemplos e formar valores?

No geral o que há é uma confusão entre o universo das escolhas individuais, relativa à esfera privada, e a esfera pública. A professora até pode ser perdoada porque estava alcoolizada. Ou seja, ela tem direito de ficar doidona e fazer a extravagância que quiser. Claro que se, ao invés de álcool ela tivesse fumado unzinho, tava mais ferrada ainda! Mas no geral o bafafá não passa desse limite! A própria nocividade da exposição do ato da professora, feita pelos malas-paparazzi e seus celulares e pela própria banda (é a mão do vocalista que arregaça a intimidade da moça), esse big-brother, essa especulação da intimidade movida a enorme falta de ética, não entram na questão.

Vendo os depoimentos da professora concluo que, como professora, ela é fraca! Quer se vingar dos vizinhos “voltando por cima”, depois que virar dançarina de pagode-putaria. Ela sequer percebe que a parte mais frágil nessa história toda é ela própria; que tem muita gente ganhando dinheiro com o episódio que ela protagonizou – os próprios programas de TV e de rádio que fizeram audiência com o ela, e a própria banda que, em decorrência isso, pôde sair do ostracismo. Só ela perdeu até agora, e é apenas dela que se cobra decência. Tudo o mais pode ser indecente! Se ela não é capaz nem perceber isso, se não é capaz de julgar os efeitos de seu ato e ver o nível de hipocrisia que ela fez aparecer, ela é uma coitada, não merece piedade nem ser professora.

Eu prefiro ficar com a oportunidade de afirmar que tal episódio só fez aparecer o nosso atual nível de hipocrisia. Todos os dias, em algum lugar, coisas parecidas acontecem até em praça pública, com a presença majoritária de crianças e com recursos públicos. Vimos isso quando filmamos “O Estado da Arte da Fuleragem”. A cidade de Salvador então, está repleta dessas jóias. Coisas como “Cadeira Erótica”, “Surubão” e outras piores animam festivais de exibição e simulação erótica em vários lugares todos os dias. Por isso não condeno a professora isoladamente, embora ache que qualquer pessoa com um pouco de noção da própria hipocrisia social, não faria o que ela fez. Mas a coitada é mais vítima do que vilã. Nem se deu conta de que, como professora, ela herda uma carga de responsabilidades que eu mesmo já nem quero para mim; mas é como pessoa mesmo que ela deveria ser mais cuidadosa. Por outro lado, o mais importante é isto: se é preciso educar bem as crianças, que estejam também interessados nisso a mídia como um todo, os empresários (que vendem entretenimento como se fosse droga), e todos os que apóiam e lucram com isso. Não pensem que é a cena da professora que vai "danificar" as criancinhas. Esse mesmo conteúdo que pode "danificá-las", está aí, em todos os espaços sociais, convocando todos a se jogarem. E quem liga? É isso que deveria entrar na discussão!