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quarta-feira, 29 de junho de 2011

TRAÇANDO

A gente vai tentando!

Com calma!

Na palma, na lama...

A gente vai trançando!

Com tanta calma,

que pode até virar pedra.

Com tanta calma,

que pode até virar pó.

Mas é preciso ir traçando,

mesmo em estado solúvel,

sólido, líquido ou gasoso.

Gostoso gozo em estado,

em seu estado de linha,

em seu estado de nó,

ou em estado de bicho,

mesmo em estado de só.

A gente vai trançando,

com tanta calma,

que pode até virar era

e quando for ver já era.

E era pra ser melhor!

Com tanta calma,

que pode até nem dar tempo

de ser uma coisa pior.

A gente vai seguindo!

domingo, 19 de junho de 2011

quase poiésis

trago no corpo
sensações feitas de materiais de ausência
um afago que não fora
mora e se demora em mim
como uma promessa desistida, desinvestida,
a faltar apenas um dedo de empurrão
um trisco de uma pedra noutra
de uma pele ou pelo noutro
para que se precipite e principie
poiésis feita de faísca louca
instante mágico de experiência
desses que a vida inteira esperou vida
já a gritar de impaciência

sexta-feira, 17 de junho de 2011

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Eu Quero Blues

Hoje eu quero blues, ou jazz, ou qualquer outra música que não seja nenhuma carícia besta. Algo áspero! Cortante! Que me atravesse desabotoando o lacre do ser. Do ser do ente, do ser doente, equilibrando em aço de guitarra, desobediente. Quero essa música que me entra com estilo de estilete, e com o seu metal raspa algum fiapo de ser enterrado lá dentro, na lama dos interiores, no refúgio do ventre, numa frequência que desbote os dentes, e dê gastura, encha a boca d’água, faça franzir a testa. Hoje eu quero essa festa, como uma fresta do inusitado no abrigo de um condenado! Hoje a minha dose de Diazepam eu quero no diapasão ansiolítico da música.

domingo, 5 de junho de 2011

NOSSA CASA NO SERTÃO

Nossa casa do sertão era tão baixa

Os ombros do meu pai a sustentavam

Franzino, seu corpo era dela pé direito

Tão firme, no entanto, que a toda estrutura amparava.


Nossa casa no sertão tinha telhado

De tantos cacos de telha, formado

E se ria ele mesmo em buraquinhos,

Que à rede, se podia balançar o céu de lá pra cá.


Réstias de sol traziam as nuvens

A passear devagar pelas paredes

Em noites de lua, era ela que, acanhada,

Pelas frestas nos mirava em nossa inocência.


Se havia chuva, cada goteira que por ali pingava

Tornava menos sal a nossa lágrima

E, no entanto, tanto afeto havia lá

Que no mundo todo, era só ali nosso agasalho.