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terça-feira, 29 de junho de 2010

MAIS UMA VEZ: A CHUVA!

A chuva expôs nosso despreparo.
Não se trata de apenas aparar goteiras.
Uns se lameiam, outros se lamentam!
Muitos, nem isso: apenas bóiam!

segunda-feira, 28 de junho de 2010

MAIS UMA VEZ: A CHUVA

A chuva expôs nosso despreparo.
Não se trata de apenas aparar goteiras.
Uns se lameiam, outros se lamentam!
Muitos, nem isso: apenas bóiam!

domingo, 27 de junho de 2010

LAREIRA FRIA

O problema dessas noites frias
é que os bares fecham cedo,
e em casa, nem os cães ladram!
A TV é uma lareira fria: o LCD não incendeia!

sábado, 19 de junho de 2010

Adeus, Saramago!

O escritor português José Saramago morreu na sexta-feira, dia 18 de junho, aos 87 anos. A mim a notícia me fez pensar muitas coisas, entre as quais, a capacidade que as pessoas têm de transformar o mundo. Muitas, evidentemente, nem sabem que a possuem. Outras abdicam de dela fazer uso. Saramago começou por transformar sua própria vida pela literatura e a utilizá-la para pensar o mundo e interrogá-lo. Sua literatura nos desloca e convoca-nos a pensar este deslocamento. Com ela, consigo pensar em que tipo de literatura é merecedora do Prêmio Nobel, mas sobretudo a pensar em como a literatura pode mudar o mundo e o modo de o pensarmos, sem ser piegas; com ela me assusto com as imagens oferecidas a esta problematização profunda. Ensaio sobre a cegueira é um manifesto crítico sobre o estágio em que chegamos, como outros. O conto da ilha desconhecida é uma singular expressão de utopia. Mas há dois outros pequenos livros dele, entre os muitos – e maiores – que já li, aos quais sempre volto, em meu ofício de educador. Trata-se de Objecto Quase, um livro de contos, e de As pequenas memórias, com memórias pessoais.

No primeiro, há contos fantásticos, com mensagens politicamente fortes. Um deles chama-se “Cadeira”. Descreve a queda de uma cadeira, coisa simples, mas ele leva 23 páginas para dar cabo da descrição – já que lhe interessa trazer à cena, sutilmente, essa mania do refestelo no poder, supondo segurança estabilizada, enquanto o próprio poder é corroído por dentro, por baixo, pelos micropoderes... Acho que todo político deveria lê-lo para pensar sobre esta inevitabilidade do desgaste e do desmoronamento!

No segundo, são memórias que se encontram, de algum modo, com as minhas próprias memórias, pela sua origem simples e interiorana, rural até. Há um trecho ao qual sempre volto: a parte onde ele descreve a memória do avô, vindo, encharcado de água, sob a chuva, tangendo porcos. Ele o descreve – e quase nos faz tocá-lo com a mão à sua face talhada a enxó, de tão perto que se torna: “É um homem como tantos outros nesta terra, neste mundo, talvez um Einstein esmagado sob uma montanha de impossíveis, um filósofo, um grande escritor analfabeto. Alguma coisa seria que não pode ser nunca”.

Ao que parece, Saramago não cedeu aos impossíveis de seu tempo e lugar. Nem abandonou esses impossíveis, mas os transformou em matéria-prima de seu questionamento profundo do mundo, através de uma arte literária que manejou como poucos. Isso parece justificar essa fila em seu velório!

quarta-feira, 16 de junho de 2010

frio

nos dias frios
o queixo treme
os dentes tocam
uma canção de britadeira
o corpo trinca
mereja sangue nas rachaduras

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Há dias em que a minha esperança vara a madrugada
e, vã, volta pra casa embriagada!
Dizem que é a última que morre.
Comigo, ela é a última que morde.
Ainda faminta, é a última que dorme!

quarta-feira, 9 de junho de 2010

O SER DA FILOSOFIA

diz a filosofia:
todo SER, só é ser, SENDO.
e sendo assim,
todo ser, só pode SER,
como movimento,
como DIFERENÇA!
e no entanto,
este tanto de diferença
não é outra coisa
senão a mesmíssima mesma
MESMIDADE humana.

Tome tento!
A filosofia tem essas equações difíceis.
E sem isso, nem graça tinha!

domingo, 6 de junho de 2010

POR UM FIO


Era analfabeta! Até que teve um ensinozinho, mas não passou da cópia do nome, que com o tempo esvaneceu! Cresceu arrancando caruá e no tempo do umbu já amanhecia na vereda. De ano em ano, ou lá um se acaso, em dia de festa, caprichava nas fitas e laços, decote e cintura. Por dez anos namorou um João, que vinha de ano em ano, no carnaval, se esconder no canto do curral pra lhe surpreender com um balde dágua, mas de gravata e tudo. Foi com ele, de jegue, morar na casa de taipa que a mãe dele tinha numa roça mais a oeste algumas léguas. Por anos a fio varreu terreiro, empurrando as lembranças da mocidade pro monturo. Raspou maxixe, mexeu aribé, limpou taxo, dobrou tapioca, encheu gamela com abóbora, moeu milho, fez angu, e encheu o coxo com lavagem para os porcos. Carregou pote dágua até de bucho e gemeu por cinco vezes à espera da parteira. Catou cafuné e piolho com a mesma ternura de fazer cochilar até homem feito. Nunca passou disso, até o dia em que a vaca Cumbuca caiu no riacho, no meio da enchente, remanso das águas engolindo o bicho e ela amarrou a saia em dois nós, atracou-se no cipó e enlaçou-se nos chifres do bovino empunhando frase poderosa: “ninguém pode mais que Deus”. A vaca morreu de velha, olhando agradecida para ela. E agora é ela, que em sua caduquice, fio de memória não para de lembrar-lhe aquela vaca, aquele dia, aquele feito! Depois que borrou-se tudo, parece que ela nasceu ali!

LIMIAR

Hoje, não sei o que me deu. Comecei a tremer assim derrepente. Falei, que frio que me deu agora, ave Maria! Mas todo mundo continuou com os olhos pregados na televisão. Tentei me levantar, mas não teve jeito. Aí foi que todo mundo deu fé, nesse intervalozinho desse programa besta, que é só o que tem, e me acudiu. Fiquei assustado. Eu, nessa idade, só o que me faltava era perder os sentidos. A véia, já tá ai, assim, desse jeito, abestalhada. Ninguém me tira da cabeça que é por causa desse horror de comprimidos que ela toma. Um dia desses disse prum doutor que tinha aí nesse psf: doutor, quem tá matando hoje em dia é a medicina, é a droga, é essa remedaria que a gente tem que tomar. O senhor me desculpe, eu sei que é seu ofício, mas a verdade é essa, e eu digo e não peço segredo. Depois que começa, não tem mais jeito! Eu mesmo abandonei uns comprimido, por conta própria. Adoçante mesmo eu não uso, que não se dá com meu sangue!

Mas hoje, derrepente, comecei a tremer, um frio que vinha assim de dentro pra fora, como se eu tivesse sido virado pelo avesso. Senti até a vista turva! Mas, nesta idade, me diga, ninguém mais presta atenção na gente quando a gente resmunga alguma coisa. É uma tristeza! Essa juventude de hoje – o senhor me desculpe, que o senhor também é jovem – parece que vive nas nuvens. Tudo por conta dessas besteira que essa televisão vomita o dia todo. Lá em casa mesmo, veja bem, ela não é desligada hora nenhuma. É um inferno! É a televisão, é a rua, é a festa. Eu nunca vi tanta festa em minha vida. É tooodo dia, tooodo dia! Eu mesmo não sei o que é que comemoram tanto! Eu não sei de onde vem tanta felicidade. Felicidade não, que eu não chamo isso de felicidade, eu acho que hoje o mundo é essa tristeza sorridente! Eu fico pensando, que no meu tempo era o tempo do atraso, e hoje em dia, eu concordo, tem muita educação, muita evolução, a modernidade evoluiu, a educação evoluiu, mas a perdição do mundo evoluiu mais ainda, pra encobrir, ultrapassar a educação.

Pois é, me deu esse frio, essa tremedeira, a vista ficou turva. Aí esse aí, que é meu filho, é um dos que se preocupa, mas que eu sei que ta doido pra ir pra folia, porque o baticum na rua não pára, e essa moça aí, que é filha, que é uma sofredora também, porque tudo é nas costa dela, aí eles me trouxeram aqui. O senhor sabe, nessa idade eu não me governo mais. Se me governasse nem aqui eu vinha, que isso aqui, que aqui só tem carniceiro. O senhor mandou me aplicar aí essa injeção, não vou questionar o seu saber, longe de mim, de fato, o frio passou, mas ninguém me tira da cabeça que com o tempo a gente fica é pior. Daqui pra frente eu já sei, agora é só esperar a hora de esse frio voltar, essa tremedeira. Agora não tem mais jeito, mais cedo o mais tarde, volta!