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domingo, 14 de fevereiro de 2010

Sobre o Lazer e a Pressa dos Meios de Comunicação

Josemar da Silva Martins
Professor do DCH III/UNEB

Os meios de comunicação não têm tempo – estão sempre apressados em transformar informação em notícia, correndo de um lado para outro para fazer matérias rápidas, com perguntas que rondam o lugar-comum, sem tempo para uma resposta mais completa, afinal, na lógica dos meios de comunicação, tempo é ouro, e não há como dar ouvidos a coisas importantes

A opção dos meios de comunicação é pelo entretenimento, pela distração, pela superfície, pela aparência. Por isso não tocam em temas importantes; por isso vivem de factóides, adoram polêmica e ficam sempre com o pueril. Só isso já afasta os meios de comunicação da idéia de lazer. Ficam eles mais próximos do entretenimento, mas do lazer não, exatamente porque lazer requer outro ritmo, outro desinteresse, que não é uma renúncia, mas a abertura para outra dimensão da experiência elaborativa. Bom, mas isso não interessa aos meios de comunicação!

Prova disso? Ontem fui entrevistado por uma aluna de comunicação social (foi minha aluna), para o canal de TV local, afiliada da Globo. Estávamos numa chácara onde foi recentemente inaugurado um atelier e estava havendo um ensaio. Eu não pedi para ser entrevistado – eu nunca peço! As perguntas eram sobre o espaço, a importância dele... e no decorrer veio uma pergunta se ali, aquele espaço, era uma mistura de lazer com cultura. Iniciei a resposta tentando dizer que lazer tem tudo a ver com isso, já que na origem da palavra lazer (que é grega) está esta finalidade de fruição e de elaboração, diferentemente do mero entretenimento...

Para meu espanto a repórter recolheu o microfone enquanto eu respondia à pergunta que ela mesma fizera, como se disse “chega!”. Continuei falando, o cinegrafista continuou filmando, até que se dissipasse aquele incômodo, que não se desfez. Depois completei que essa postura não é condizente com uma postura de alguém que, além de repórter, está concluindo um curso de jornalismo. A resposta? “Você é meu brother!”. Que espécie de brodagem é essa?

O que eu ia dizendo é que o termo lazer está associado ao termo scholé, que ainda na Grécia Antiga deu origem à palavra escola. Lá scholé significava exatamente lazer. Esta informação encontra-se no livro “Guerras Culturais”, de Teixeira Coelho, num texto intitulado “Lazer, Globalização e Identidade Cultural – um decálogo, dois teoremas e uma perspectiva para o lazer”. Ali ele explica que o lazer não é uma interrupção da atividade, ou seja, não é uma pausa para alguma coisa diferente da pausa; não é uma pausa que recupera as energias e colocar a pessoa em condição de voltar à ocupação. Na verdade lazer é uma interrupção do ritmo normal de atividade que se volta apenas para si mesma, como um modo de atividade superior (p. 145).

Isso quer dizer que lazer é puro dispêndio de tempo livre, disposto à fruição, à elaboração, ao saboreio, com fim em si mesmo. Essa é sua principal relação com a cultura, com a arte, com a invenção despida de espírito de negócio meramente. Não serve para nada, a não para esses saltos espirituais que não passam pelos templos religiosos. Por isso estávamos naquela chácara, naquele espaço, naquele atelier, naquele ensaio.

Mas nisso os meios de comunicação não estão interessados! Eles têm pressa! E os/as repórteres aprendem, em boa parte do curso de comunicação social, especialmente nos estágios remunerados nos meios locais, esse axioma. É uma pena!