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terça-feira, 15 de outubro de 2013

DIA DOS PROFESSORES

Moro ao lado de duas escolas, mas apenas uma é pública - e todos os dias me acorda com o barulho típico, como se fosse uma caixa acústica cheia de gritos de gente. Mas hoje, enquanto a escola privada permanece silenciosa, a escola pública dispôs do seu barulho para me acordar. Mas, ao contrário de todos os dias, hoje me acordou com música. Legião urbana, somo tão jovens. E um locutor bradando que haveria comemoração.

Ligo a TV e vejo que há professores falando. A voz dos professores é sempre carregada de uma narrativa de entrega e de dor. Suas histórias de vida ainda insistem em tornar nobre o ofício, que diariamente descamba numa confusão degenerativa - apesar da campanha com poema de Arnaldo Antunes, que gosto muito; apesar das greves em voga, das manifestações de rua (com o detalhe, não menos importante, da presença ainda enigmática de mascarados promovendo queimas e quebra-quebra). 

Hoje, é dia do professor! Felizmente há pessoas de outras áreas saudando-os, se comprazendo com eles. Felizmente há gente interessada em ouvir a voz docente - apesar dessa babaquice do Harmonia do Samba no programa da Fátima Bernardes. 

E eu, continuo repetindo o básico. Três coisas precisam acontecer para melhorar a situação da educação no Brasil: 

A primeira é desonerar a escola e a função docente de tudo que não é obrigação da escola e da docência - o que implica em devolver aos outros agentes sociais (incluindo famílias e mídias) suas devidas funções educativas; 

A segunda é melhorar a formação inicial dos professores, buscando garantir o que é fundamental, a saber: um repertório linguístico mais amplo e mais qualitativo; uma capacidade de reflexão acima do senso comum;  e uma capacidade de expressão acima dos níveis linguísticos do fecebook. Mas também é necessária uma boa inserção na dimensão prática da profissão, para livrá-la das retóricas de ocasião e de lero-lero inócuo que só empobrece e achata a formação inicial básica; 

A terceira é a melhoria dos salários, como forma de melhorar, em termos práticos, tanto o status quanto a autoestima docente. Os salários dos professores e o piso nacional ainda são medíocres, tornando a profissão uma espécie de entrega missionária e caridosa que, em algum momento, acaba resultando na angústia e na depressão. Esta melhoria inclui diminuir o tempo de trabalho em sala de aula e o aumento do tempo para estudo, planejamento, avaliações e preenchimento de cadernetas, documentos e formulários inerentes ao exercício docente.

Não consigo atravessar este dia apenas dizendo que o professor é umas das mais importantes profissões do mundo. Quero sentir isso em termos práticos. Caso contrário, sempre parecerá que estamos fazendo algum jogo de consolo, tipo, "bem aventurados sejam os sofredores do mundo, porque deles é o reino do céu". Ora, me poupem! Aliás, mesmo a boa intenção das campanhas não consegue disfarçar o teor sentimental deste consolo. Gostaria de ver, no dia hoje, alguma ação concreta que ultrapassasse esta linha!

No mais, Feliz Dia dos Professores!