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segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

RESSACA DE ANO NOVO

Em geral entramos o ano de ressaca. É regra! A não ser que a "virada" não tenha tido graça! Reveillión que se preze tem que oportunizar a embriaguês, o borrão nas maquiagens e o amassão das sedas brancas, ou de outros tecidos mais ou menos nobres. A gente começa engalanado e termina sendo arrastado para casa, aos trapos! Aí o feriado do primeiro dia serve apenas para curar a ressaca do ano novo.

Se a embriaguês for das boas, faz as vezes de um bom ritual de passagem, desses que oportunizam o renascimento! A ressaca é, portanto, uma oportunidade de renascimento! Muitas vezes um renascimento que termina num "nunca mais bebo", ou em algo menos dramático, como um "este ano vai ser diferente".

De qualquer forma, estou de ressaca - e parte do que espero do ano tem a ver com isso! A minha ressaca, no entanto, é outra! É que este ano me deparei com um tipo de juventude diferente! Não é a juventude que se droga, como foi a minha, embora a de agora se drogue cada vez mais e com coisa mais pesada. Também não é a juventude que fax sexo, como a minha, embora esta faça sexo muito mais! Mas parece uma juventude que desistiu do ritual, da elaboração, do valor do tempo das coisas! O único ritual, é a carnavalização; a única elaboração é a maquiagem, o único tempo é o presente, estendido até depois de onde deveria virar outra coisa! Tudo isso com simulação de holofotes (o orkut serve para isso, em geral)!

Encontro os jovens e eles não estão indo à escola, há muitos que desistiram dela, outros foram reprovados... e também não estão interessado em trabalho! Eles querem festa, sucesso, exibição! Por isso precisam de um celular "da hora", uma máquina digital, uma moto, um somzão no porta-mala... Onde vão achar dinheiro para isso? Quem sabe um Empréstimo Consignado na aposentadoria dos avós! Quem sabe, um pequeno assalto, um sequestro!

Esta é a promiscuidade do momento. A isso temos chamado de violência! A isso eu chamo promiscuidade sistêmica! De onde ela vem? Pergunte aos que ganham dinheiro vendendo droga! E mude o conceito de droga! Vá além da maconha, da cocaína e até mesmo do crack. Vá até onde vendem ilusões! Vá até onde vendem a idéia de que todo mundo tem que ser Rei. Vá até onde todos já querem começar de cima! Todos com o rei na barriga! Vá até onde a liberdade foi vampirizada pelo mercado e pelo consumo! Vá até onde vendem bíceps e sonhos de pop star, música ruim e ética fuleira! Eis aí a drogadição do presente!

Para mim, a mesma imagem dos meninos achando que a vida é uma chapação constante, é a mesma imagem da "chapação das opções que se oferecem". Vou de bar em bar da cidade e ouço a mesma coisa. Viajo centenas de quilômetros e vejo os mesmos gestos. Emcaro as mesmas paisagens - incluindo as mesmas paisagens de ficus benjamina (que muita gente chama "pé de fixo") se repetindo em todas ruas, em todas as praças, em todas as cidades! Prescruto aí os mesmos idiotas sonhos, como se tivessem sido feito em série!

Tô de ressaca disso tudo! É como se tivesse se produzido uma bolha de repetição constante dos mesmos modos de ser! E a palavra alienação - da qual agora os intelectuais e as academias querem distância, pois preferem palavras mais atuais, como agenciamento - se revigora!

A minha ressaca que já se repete há alguns anos, é dessa repetição de tudo! Não há mais diferença entre qualquer outra festa de fim de semana de uma festa de reveillión na maioria das cidades que conheço! A não ser pelos penteados, pelos brilhos nos rostos e nos vestidos das mulheres, ou pelos engalanamentos dos homens, não saberíamos. As opções de festas são todas medíocres: em geral são feitas em cercados de metal que cabem aí uns 30 mil pagantes, pelo menos. São feitas por empresas "laranjas" de políticos que estão no poder, mas quase que indisfarçadamente são postas na mão dos "laranjas". A prefeitura dá a infra, a empreza ganha o dinheiro e divide com os "donos" da coisa, que são os próprios políticos empoderados.

O sucesso da festa é geralmente garantido por uma banda tipo Saia Rodada, Aviões do Forró, Silvano Sales, Swing Tropical, Asas Livres... (a lista é bem maior), que tocam músicas dessas que se repetem umas quinhentas vezes por dia em todos os porta-malas de carros, nos bares, churrascarias e FMs. É tudo um maravilhoso consenso sobre a qualidade das beldades tocadas! No palco, as músicas, com suas estéticas ridículas, são executadas com a dramatização das letras por meninas seminuas e bichinhas que fazem o papel de homens na encenação do erótico. Por isso é um espetáculo tosco de simulações ridículas. E tudo não passa de simulação, até o sexo! Torna-se uma festa que se sustenta na estética do falso! Mas todo mundo compra!

Tô de ressaca disso tudo! Mas ainda bem que a minha "virada" deste ano foi ótima! Primeiramente porque o ambiente era outro, a música era diferente, e por isso não fiquei bêbado. Manti-me lúcido pela madrugada e iniciei a manhã com um belo café da manhã, no cais da cidade, antes de qualquer ressaca - o que me evitou que ela viesse depois. Foi outro tipo de renascimento! Há muitas promessas para o ano novo, como sempre, e espero poder cumpri-las! Uma delas é a de enfrentar a reiteração da mesmice. Não estávamos interessados em ganhar dinheiro, mas em recuperar outras possibilidades de festa e de estética! Por isso a festa foi uma iniciativa de pessoas, e não do poder público (embora este o tenha apoiado)!

E menos ainda a "nossa" festa foi uma iniciativa do mercado! Quanto a esse, aos empresários e homens de negócio, esses não têm mais tempo para sonhar, a não ser com as fórmulas de ganhar dinheiro fácil e rápido! Se for preciso, vendem droga! E é o que têm feito!

Josemar Martins (Pinzoh)