Pesquisar este blog

quarta-feira, 25 de maio de 2011

brilhantes

quando o dia cai seu peso escuro sobre mim
tenho que afinar minha prosa de silêncios.

aquela transição de fim de tarde
é como se nos rasgasse ao meio
e escancarasse nossa multidão de avessos.

o dedo de espanar nuvens, não pode aparar estrelas
as que já não são cadentes, são só memória brilhante
buracos que o tempo fez no teto escuro da noite
pra iluminar os poetas e enganar os amantes!

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Contra-Tempo

Sento nos degraus da tarde,
tento bordar uns atalhos,
para estacar a noite.

E é a noite que me atalha,
a me oferecer retalhos
de improváveis remendos.
A tarde logo desaba
para escuros descabidos,
não há como estancar-lhe.

De fato é bom avexar-se:
- parado, é o tempo nos anda.

BUSCA VÃ

Me perguntas o que fui buscar do outro lado do mundo, ao longe, ao além-mar, exterior deste lado? Fui procurar um outro de mim que suspeitei que lá habita, e justifica o daqui, esvaziado de si, a mentir que o de lá é estrelas que fabrica.

Mas encontrei o mesmo-outro, a cavucar o chão da existência, a mastigar reticências e a engolir silêncios, sem temperos de provérbios. Me apontou céu riscado das caudas dos aviões, cujas estrelas varreram. E outras, de desespero, tornaram todas cadentes e se atiraram ao mar. As que restam são verdinhas: para atingir estado de rezulências, terão que morrer primeiro.

Disse ainda, esse outro, que é provável que outros de mim haja, que de mim nem desconfiam. Se há, têm outras estórias, talvez até mais risonhos, talvez com olhos mais verdes, talvez com mais solidão, talvez conduzam comboios, talvez durma na sarjeta, talvez já mais anciãos. O certo é que em cada um, há um primeiro, andarilho deste mundo, desde quando não se sabe, e se esconde lá no uno fundo do si de cada. Todos eles buscam tanto, ou encontrar cada seus, ou se perder no sem rumo.

Me disse que a busca é vã, mesmo que vá ou que fique, que os outros são ficções, tanto quanto o mesmo este. E é só este que existe, com suas muitas facetas, no mesmo corpo que enruga–se, a cada manhã que estoura no horizonte da vida. Sugeriu orientar a inquietude do ser para compor horizontes e neles plantar estrelas. Mas não assim, quando der. Sugeriu que fosse agora, no nestante de cada pé, um a um, a cada vez, a palmilhar o consigo. Não deu consolo, nem nada. Apenas riu, e tão logo se esvaiu.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

É isto!

Então tá! Vamos enfim suspender os pés do chão. Não há promessas seguras, e nem por isso o coração altera o ritmo do seu ritual. Acelera, se for o caso - e pouco há para fazer, quanto a isto. Talvez uma dose maior de alguma bebida amarga alivie um pouco. Mas, só! Não sei o que procuro, mas, seguramente, é o que faço. Algum tipo de azia, de acidez, de areia nos olhos, de coceira inexplicável atiça o devenir do ser, o devir e o devaneio! No entanto, sei que volto! Volto sempre para os mesmos afetos e para os mesmos pontos de espera, armazéns de falta, buscas aflitas, vacilantes entre envelhecer sensato, virando sombra de tantos, ou recuar o descanso e empurrar o horizonte, a cada passo, para mais longe.

É isto!