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domingo, 6 de junho de 2010

LIMIAR

Hoje, não sei o que me deu. Comecei a tremer assim derrepente. Falei, que frio que me deu agora, ave Maria! Mas todo mundo continuou com os olhos pregados na televisão. Tentei me levantar, mas não teve jeito. Aí foi que todo mundo deu fé, nesse intervalozinho desse programa besta, que é só o que tem, e me acudiu. Fiquei assustado. Eu, nessa idade, só o que me faltava era perder os sentidos. A véia, já tá ai, assim, desse jeito, abestalhada. Ninguém me tira da cabeça que é por causa desse horror de comprimidos que ela toma. Um dia desses disse prum doutor que tinha aí nesse psf: doutor, quem tá matando hoje em dia é a medicina, é a droga, é essa remedaria que a gente tem que tomar. O senhor me desculpe, eu sei que é seu ofício, mas a verdade é essa, e eu digo e não peço segredo. Depois que começa, não tem mais jeito! Eu mesmo abandonei uns comprimido, por conta própria. Adoçante mesmo eu não uso, que não se dá com meu sangue!

Mas hoje, derrepente, comecei a tremer, um frio que vinha assim de dentro pra fora, como se eu tivesse sido virado pelo avesso. Senti até a vista turva! Mas, nesta idade, me diga, ninguém mais presta atenção na gente quando a gente resmunga alguma coisa. É uma tristeza! Essa juventude de hoje – o senhor me desculpe, que o senhor também é jovem – parece que vive nas nuvens. Tudo por conta dessas besteira que essa televisão vomita o dia todo. Lá em casa mesmo, veja bem, ela não é desligada hora nenhuma. É um inferno! É a televisão, é a rua, é a festa. Eu nunca vi tanta festa em minha vida. É tooodo dia, tooodo dia! Eu mesmo não sei o que é que comemoram tanto! Eu não sei de onde vem tanta felicidade. Felicidade não, que eu não chamo isso de felicidade, eu acho que hoje o mundo é essa tristeza sorridente! Eu fico pensando, que no meu tempo era o tempo do atraso, e hoje em dia, eu concordo, tem muita educação, muita evolução, a modernidade evoluiu, a educação evoluiu, mas a perdição do mundo evoluiu mais ainda, pra encobrir, ultrapassar a educação.

Pois é, me deu esse frio, essa tremedeira, a vista ficou turva. Aí esse aí, que é meu filho, é um dos que se preocupa, mas que eu sei que ta doido pra ir pra folia, porque o baticum na rua não pára, e essa moça aí, que é filha, que é uma sofredora também, porque tudo é nas costa dela, aí eles me trouxeram aqui. O senhor sabe, nessa idade eu não me governo mais. Se me governasse nem aqui eu vinha, que isso aqui, que aqui só tem carniceiro. O senhor mandou me aplicar aí essa injeção, não vou questionar o seu saber, longe de mim, de fato, o frio passou, mas ninguém me tira da cabeça que com o tempo a gente fica é pior. Daqui pra frente eu já sei, agora é só esperar a hora de esse frio voltar, essa tremedeira. Agora não tem mais jeito, mais cedo o mais tarde, volta!

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