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quinta-feira, 21 de outubro de 2010

LIÇÃO DAS URNAS 3

Eu nasci no sertão, precisamente num sítio chamado São João, no povoado de São Bento, interior de Curaçá, Bahia, Brasil. O ano, 1967. Um ano antes do "ano que não terminou", segundo Zuenir Ventura, 1968. Período cruel da Ditadura Militar. Filho de pais pobres, amarguei desde cedo os diversos modos de coação da política. Naquela época, quem mandava, mandava. Qualquer contrariedade era resolvida no insulto e na intimidação, ou simplesmente na porrada e na bala. Não havia a quem apelar: ministério público, direitos humanos... O delegado o juiz e todas as demais autoridades mais acima ou mais abaixo comiam na mão do político-mor paroquial, que comia na mão do político-mor estadual e assim por diante. Tempos de políticos biônicos: ACM foi um deles. Marco Maciel, vice de FHC, também.
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Naquele tempo não se falava em corrupção porque não havia tribunal e PF para investigar, denunciar, julgar e punir. Em tempos de eleição a corrupção corria solta. Voto que não era de cabresto, fruto da intimidação ostensiva, era comprado com filtro caseiro, caçamba de areia, dentadura ou ligadurra de trompas (que diga como isso funcionava o ex-deputado Pedro Alcântara) e até uma ambulância para levar um doente de uma cidade a outra, viarava um favor que era pago com voto.
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Os jovens de hoje, os que se encantam com um cara como Serra usando emblema de "ficha limpa" ou os que votaram em Marina "em nome da ética", todos os que pensam que a corrupção foi inventada hoje e pelo PT, não sabem da missa um terço. Tempos de corrupção para valer mesmo eram aqueles, principalmente porque não havia quem julgasse. E quem ousasse denunciar ou era morto ou exilado! A coisa pública era extensão da casa do mandatário. Os carros da Prefeitura de Curaçá, por exemplo, serviam para o filho do prefeito dar "cavalo de pau" e comer água e mulher em Juazeiro. Tribunal de contas? Contas reprovadas? Quem ouvia falar disso? A SUDENE, a SUDAM, o DNOCS, os órgaos oficiais que deveriam servir, por exemplo, para implementar o desenvolvimento de regiões como o Nordeste e a Amazônia, eram sugados, vampirizados em favor dos oligarcas da política brasileira, baiana, nordestina. Era um paraíso!
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Lembrando disso venho aqui comemorar, mais uma vez, os resultados destas eleições. Pela primeira vez, sem cabresto algum, sem intimidação (exceto a da boataria que os marqueteiros colocaram em curso para difamar uns, como sendo do mal, e privilegiar outros, como sendo do bem - esse anacronismo da comunicação eleitoral que só rebaixa o nosso senso comum), as pessoas foram às urnas, votaram e se posicionaram de forma surpreendente nestas eleições. E o resultado foi formidável. Fico enormemente feliz em ver um Marco Maciel (um dos gagás da política brasileira, que começou sendo político biônico) derrotado nas urnas. Uma leva inteira de velhos políticos, acostumados com o velho e anacrônico jogo da política foram derrotados: Marco Maciel (DEM), Heráclito Fortes (DEM), Jorge Bornhausen (DEM), César Maia (DEM), Mão Santa (ex-PMDB), Arthur Virgílio (PSDB), Tasso Jereissati (PSDB), Paulo Souto (DEM), Cesar Borges (PR)... Aliás, o DEM está em extinção! As velhas raposas que vinham desde o ARENA 1 e 2, depois, PDS, depois PFL e agora DEM, vendo a canoa afundar, estão pulando fora e vestindo roupa de cordeiro. Uma parte deles foi acudida pelo PMDB de Geddel, o novo pretendente a coronel que a Bahia tem. Mas mesmo assim o naufrágio prossegue!
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Enfim, muitos velhos coronéis, oligarcas da política brasileira, beneficiários e herdeiros da Ditadura Militar, ícones da antidemocracia e de uma política restritiva, ameçadora e corrupta - que agora pousavam de "paladinos de ética na política" - foram todos derrotados! Eu achei isso tudo uma coisa fantástica! Acho que, aos poucos, o povo está se emancipando. Claro, que ele ainda não está isento das muitas e novas formas de manipulação. Mas que a democracia está avançando, está! O Brssil está pasando por uma fase nova, mais inclusiva, mais democrática, mais livre! Claro que temos problemas, e a corrupção é um deles. Mas isso vem de longe e já foi pior! Começou com a corja que veio com D. João VI, enconstada na coroa, comendo, bufando e reclamando! E continuou nos diversos golpes que o país sofreu! Hoje há imprensa livre, há tribunais, etc. Não estamos mais sob a égide de medo! Em relação à corrupção ela é um problema nosso, de todos nós que temos que exorcizar! A cordialidade do "jeitinho brasileiro" não passa de um disfarce do patrimonialismo. É aí que nascem todas as corrupções, quando aquilo que é público é apropriado por alguém como sendo coisa privada. Mas, sobre isto, não serão os velhos oligarcas que nos vão ensinar! Eles não têm nada a nos ensinar sobre democracia e honestidade política. Eles não sabem o que é isso, acreditem, porque nunca viveram! Estavam refestelados no poder este tempo todo, desde que o cão era menino, dificultando a passagem para tempos melhores. Por mim eles já vão tarde!
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Que os novos políticos saibam onde colocam os pés, afinal, mesmo em um tempo como o nosso, um tanto desmemoriado, o passado ainda tem muito a dizer. A democracia depende de uma tradução da história. Assim como depende de ações renovadas pelas exigências do presente, olhando o futuro e seguindo adiante, e não mais ficando preso ao anacronismo das velhas raposas! Sigamos adiante com a democracia - afinal ela ainda é jovem. E que os jovens saibam o que isso significa!

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