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quinta-feira, 21 de outubro de 2010

BESTA

noite, noite, noite,
pra que tanta pressa
de passar por nós
se este é meu momento
e se uma noite é pouco
pra ficar a sós

se tudo que pensei
tudo que sonhei
pra dizer agora
soa diferente
soa inadequado
e indo vão-se as horas

preciso dizer
arranjar um gesto
sair do impasse
por isso que peço
que pare o universo
que a noite não passe

que não venha o sol
que não venha o sono
que o tempo estacione
que o papo não mingue
que eu tenha coragem
de dizer o teu nome

no meio das coisas
que eu digo que amo
nomeie a fissura
que eu digo que sinto
declare o desejo
que por ti carrego

tropeço nos gestos
disfarce, embaraço,
e a noite correndo
as horas se indo
o papo cessando
o sono chegando
o que há comigo?
são coisas tão simples
que tenho a dizer
sei que não machucam
que não vão doer
sei que são afagos
sei que são sinceras

e porque não digo?
e por que reluto?
sofro antecipado
e antes de dizer
algo me atormenta
torna-me um culpado

e enquanto isso
enquanto me acanho
outros são velozes
logo te abocanham
violam os instantes
atropelam tudo

e eu com essa mania
de achar um jeito
de ser bem sutil
não assustar tanto
escorrego sempre
nas horas que passam

que há nisso tudo
que me assusta tanto?
um não, um talvez?
um sim, por enquanto?
uma longa história?
um amor rebento?

antes que eu desista
antes que seu rosto
se perca de vista
antes que amanheça
digo de uma vez
que eu quero, que eu topo,
que eu amo e sou besta.

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