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sexta-feira, 4 de abril de 2008

VIGÍLIA VÃ

(Pinzoh)

Daqui de onde estou
Miro miragens gratuitas que a noite oferece
Há um gato no telhado, que parece um leão sentado
Quase um detalhe da arquitetura
Que só se vê quando é madrugada.

Agora já não há barulhos
A túnica da noite vestiu os homens e o fez pedras em sono
Pedras que sonham com pés pesados que as mexam de lugar
Para que encontrem os seus, em suas diásporas incontornáveis.
Pedras salvas pelo acaso do andar dos pés de outros
Pedras separadas para sempre pelo pisar sem coração
Pedras que não choram porque são fortes, duras...

Eu sou apenas um pêndulo pesado, em vigília.
Ouço os pulmões. Sinto-me, cheiro e textura.
Acato o que a cabeça explora em seu mecanismo meio cínico
Que não deixa espaço para ordenamentos seguros
Aceito que os músculos se expandam e se contraiam
Conforme os pensamentos avancem.
Balanço!

Há um ponto para onde volto sempre
E não é essa brecha no telhado por onde me pisca a lua
Nem é esse farfalhar dos galhos da árvore coçando a parede
Não é esse ressonar das pessoas que dormem

Volto sempre para esse nada em forma de aura
Que me leva insone às auroras claras
Que cochicha vozes às vezes aveludadas
E me diz verdades que nem ouço.

A noite vaza na inclinação do cosmo
O mote esgota-se e outro me caçoa
Imagino especiais abraços
E outros toques mais sutis no dorso
Espano palavras velhas em desuso
Estico o tempo até onde não posso
E amanheço!

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