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domingo, 26 de dezembro de 2010

RESSACA 2

Durmo, enquanto os pelos crescem
Rugas, fome e gastrite me despertam
Enquanto eu peço algum tempo ainda
Pois para mim esta manhã não é bem-vinda!

Sou da noite. Note-se!
Entro nela como num grande lago
Onde tão logo se esbanjam bafos e tragos
Estrago-me entre a fumaça e os odores
Entre encantos, desencantos e quase-amores.

E até esqueço que mais cedo ou que mais tarde
A noite que de início arde, ainda criança
Logo mais balança velha e enrugada e, enfim, finda
E eu desconheço aquelas faces, há pouco lindas.

Mas eu, afoite, me apeguei à noite
E nela espero sempre a eternidade
Entre goles, entrego os meus segredos,
Como se, trôpego, precipitasse a confissão
Descuidado da paixão que nunca míngua.

Confesso que transito entre dois pontos
Zonzo e tonto entre a escassez e o excesso
E agora, nesta cama, dos pés à cabeceira
Nem rastro daquela chama
Que queimei a noite inteira.

Ressaca e fadiga contornam a agonia
O tic-tac, a batida do pedreiro, o assovio...
Por detrás daqueles tetos desce o rio
Por detrás daquele morro sobe o sol

E é um pouco menos luz que eu suplico
É contra a claridade que eu me agito
É contra todos os barulhos que eu grito.

Manhã que, se não fosse o mal-estar, eu saudaria!
Mas fico teso, a mão no saco, retardando o dia.

Um comentário:

Ana Carla Guimaraes disse...

Perfeito e Profundo.
Muito além de um belo caso de amor pela embriaguez da noite.
bjuss.