Juazeiro, BA, 01 de abril de 2007
Sr. José Alberto,
Esta carta não é à ACCORD, nem à Radio Curaçá FM. É uma carta á pessoa José Alberto. Ela será tornada pública pela única razão de que o assunto assim já se tornou. E porque a sua carta também foi enviada para várias pessoas, como a minha antes também foi. Não terá sido a primeira vez na História que isso ocorreu, quando o assunto é de interesse público. Talvez seja este o único modo de fazer com que outras pessoas aprendam, em contato com nossos equívocos.
Hoje reli várias vezes a minha carta-resposta que enviei a vocês, procurando encontrar os pontos em que eu poderia estar provocando a sua ira, afinal, é de ira e de arrivismo pessoal de que se trata a sua resposta. A começar pelo título que você utiliza (“OS EQUÍVOCOS DE PINZOH – Considerações sobre a Carta-Resposta grosseira e mentirosa do Professor”), sua carta é, em si, um discurso inteiro, que não precisaria de mais uma só palavra para dizer o que diz. Desde aí a minha carta a vocês é, a um só tempo, equivocada, grosseira e mentirosa.
Pelo visto sua resposta não se limita a uma resposta à minha carta-resposta, porque duvido que qualquer leitor encontre nela os atributos que você questiona. E espero que esta sua resposta não esteja permeada de resquícios de atritos que já tivemos, eu e você, em tempos passados, por conta de sua agressividade desferida contra uma pessoa que eu estimo muito, que não mora mais em Curaçá, mas que outras pessoas da ACCORD sabem bem de quem se trata.
Nesse sentido entendo que não há atritos entre mim e a ACCORD, ou entre esta e o INOVE (instituição que presido), mas esta celeuma parece que é entre nós dois. A sua carta não é da instituição ACCORD, mas sua. Os argumentos não são da ACCORD, mas seus. O teor dos sentimentos nos quais destilou suas palavras, não é da ACCORD, mas seu. E, nesse sentido, você usou como método de análise da minha carta (que duvido que tenha sido discutida em assembléia; como duvido que esta resposta seja do coletivo da ACCORD) os mesmos instrumentos que diz estar questionando em meu posicionamento. Se minha carta foi grosseira, espero que os leitores possam comparar as duas para inferir em qual delas há uma dose maior de grosseria. Em sua carta não sou apenas qualificado de equivocado, grosseiro e mentiroso, mas de nefasto (atribuição direta), narcisista, oportunista e leviano (atribuição indireta). Ou seja, você questiona a grosseria utilizando-se como recurso a própria grosseria; questiona a leviandade utilizando-se como recurso a própria leviandade.
Você expõe, de forma descontextualizada, a minha entrada precipitada na reunião da ACCORD da qual participei, e onde realmente entrei pela janela. Não vou pedir perdão por isso, mas seria bom que o leitor soubesse de que espaço se trata, de que janela se trata. Coloque uma foto dessa janela. Diga que é uma espécie de janela quase-porta, onde, naquele mesmo dia e em outros, algumas pessoas têm por hábito sentar nelas, e entrar e sair através delas, por estarem a meio metro do piso. Dê pelo menos algum elemento de contexto. Isso também se chama honestidade. Você poderia também lembrar porque eu fui parar naquela reunião sem ser convidado. Diga, por exemplo, que algumas pessoas do INOVE são também membros da ACCORD; por exemplo, a secretária da ACCORD é vice-presidente do INOVE. E além dela há outros membros comuns: Jane, Zé Íris, Dione, e alguns outros.
Naquele dia fui a Curaçá porque haveria uma reunião da frente de partidos que estavam discutindo como prover os cargos do Estado no âmbito do município, pela manhã, e pela tarde haveria uma reunião do INOVE. E aquele mesmo espaço utilizado pela ACCORD (no qual entrei pela janela) é também utilizado por outras instituições e grupos para suas reuniões. Algumas vezes ele serve às discussões partidárias, e já nos serviu várias vezes para reuniões do INOVE.
Em muitos desses espaços, agrupamentos e instituições, as pessoas são as mesmas. Portanto, aquela reunião poderia ser de qualquer um desses coletivos e, de fato, eu não sabia que era da ACCORD, senão não teria entrado, nem pela janela, nem pela porta, porque aprendi a respeitar espaços institucionais. Somente me dei conta de que tipo de reunião se tratava quando algumas pessoas, que são ao mesmo tempo membros do INOVE, do partido e da ACCORD, me informaram. Portanto, fui parar naquela reunião porque as primeiras pessoas que avistei ali eram comuns ou ao INOVE ou ao partido, ou à frente de partidos à qual já me referi.
A condição de “penetra”, como você qualifica, é apropriada sim, mas não sem contexto. Você sabe disso, mas joga de uma forma que nega ao leitor informações que poderiam fazê-lo encarar as coisas de outra maneira, afinal você mesmo participa de muitos espaços comuns, e participa dessas outras reuniões; aliás, você também faz parte do mesmo partido que eu. Mas você nega tais dados ao leitor, privando-o de informações que o ajudariam a elaborar de outra forma uma opinião sobre o ocorrido. Além disso, não achei que em um espaço em que há tantas pessoas em comum, sobretudo com estreitos laços afetivos, a minha presença, pela janela ou não, seria encarada com tanta reatividade. Só não sei se esta reatividade tem justificativas institucionais, ou é meramente pessoal. Quanto à privação de informações contextuais ao leitor, a pergunta que me resta é: em que esse procedimento se diferencia da leviandade? Pois é contra esse formato de comunicação e de informação invertida que luto.
Mas não falta ao leitor apenas o contexto específico sobre a minha entrada pela janela, em termos literais, na reunião da ACCORD; faltam-lhe também informações sobre o uso metafórico do “entrar pela janela”, atribuído a mim. Nesse caso, certamente é importante dizer que em minha vida “entrar pela janela” nunca foi o meu forte. Exceto o tempo em que trabalhei na roça e no posto de gasolina Asa Branca, ou na UNIMED, em Juazeiro (como vendedor de planos de saúde), e depois na Papelaria Emanuela, todos os meus outros trabalhos foram com ingresso através de concurso público. E, recentemente, em casos de consultoria e assessoria, foi por mérito, mesmo nos casos em que houve a indicação de algum político, como foi o caso a Assessoria à Prefeitura de Juazeiro, no governo passado, e agora, quando fui nomeado para a Diretoria de Currículos Especiais, da Secretaria de Educação do Estado da Bahia. Nem nesses casos o “entrar pela janela” é legítimo quando a mim é dirigido. Claro que as pessoas que não são de Curaçá – e que vão ler sua resposta – podem não me conhecer. Mas as que me conhecem devem saber disso, inclusive você mesmo. Está aí uma carapuça que não me cabe! Em relação a entrar pela janela, eu não sei se isso se aplicaria mais a mim ou a você.
Esse ponto é importante porque parece que estou clamando por um espaço na Rádio Curaçá FM. Achei que o convite me havia sido feito por razão de alguma qualidade que eu possuía. Mas vejo que sua carta me destituiu, no seu conceito particular, de todo e qualquer valor, como profissional e como cidadão. Pior será se a ACCORD concordar com isso. Ainda bem que minha dignidade não depende de seu ódio destilado! Se a ACCORD acha importante que eu contribua com a rádio, o farei de bom grado, e darei minha contribuição como já fiz a faço em Curaçá, em muitos outros momentos, e em diversas situações, porque Curaçá, a rádio e a ACCORD não podem ser reduzidas a essas pendengas pessoais que você quer sustentar. Não quero gastar minha energia com isso, porque tenho muito que fazer. Entre as minhas contribuições a Curaçá, me orgulho de ter sido um dos autores da Proposta Político Pedagógica que, embora institucionalmente desvalorizada no âmbito da administração municipal, pôde mobilizar um certo orgulho em muitas pessoas do município e, além disso, animou em outras relações institucionais, a valorização do município e da própria gestão municipal.
Você, embora diga que minha carta foi mentirosa, esqueceu de apontar as mentiras que constam nela. Em minha carta o leitor não vai encontrar uma só palavra afirmando que há uma “posição da emissora em não querer inovar”. O que nela consta é um trecho entre aspas atribuído a você: “não podemos começar as coisas já inovando”. Essa voz é sua, e não da rádio ou da ACCORD. E eu poderia dizer que as outras pessoas presentes na reunião poderiam testemunhar se essa passagem é uma mentira minha ou não. Mas acho bastante dizer que você mesmo a confirma em um trecho de sua carta: “Para inovar, e a História mostra isso em momentos diferentes da evolução do pensamento, é necessário, antes de qualquer premissa, conhecer-se e conhecer a realidade. Sem esse conhecimento inventaríamos talvez uma caricatura de rádio, que quer inovar, mas não tem o rumo certo para dar os passos seguros”. Sua carta confirma seu pensamento. E é em relação a ele que estou em desacordo; não é contra você. Não se trata de lhe difamar (recurso que você utiliza fartamente em sua carta). Trata-se de um posicionamento diferenciado do seu, que coloquei na minha carta e não vou repeti-lo aqui porque as pessoas podem muito bem lê-la na íntegra, na página eletrônica da Radio Curaçá FM.
Em relação a outros pontos de sua carta você desconsidera que o que questiono não é nem a rádio, nem a ACCORD, nem você, em particular. No programa “O Programador é Você” (do qual participei a convite de sua titular, a professora Jucélia, secretária da ACCORD e vice-presidente do INOVE), o que eu disse foi que tenho uma visão diferenciada em relação à redundante afirmação de que “tem que tocar o que o povo gosta”. É verdade que esta afirmação foi reiterada na reunião por um dos participantes e eu me referi a isso; mas não disse que este é o pensamento da emissora – e, apenas se assim eu o tivesse procedido, você poderia afirmar que me referi a ele de forma equivocada.
Na minha carta, Sr. Zé Alberto, caso você minimize a sua ira e a leia de forma mais cautelosa, vai encontrar uma discussão razoável sobre esse aspecto do tratamento dado ao “gosto popular”. Na minha precária visão, acho que o “gosto do povo” não cai do céu, puro como chuva, pois nem a chuva já não cai tão pura assim do céu. Essa discussão não é uma afronta a você: é um posicionamento conceitual, é uma visão de mundo, que você aceita ou não, mas não pode desconsiderá-lo nem tampouco arrolar isso como uma de leviandade desferida contra você ou contra a rádio. Releia a carta. Eu sei que você tem capacidade interpretativa suficiente para fazer outra leitura do que eu disse.
Em sua carta você ainda diz que “algumas entidades não se interessaram em veicular programas, inclusive o instituto que Pinzoh preside”. Sobre isso confirmo que o INOVE já foi convidado para apresentar alguma coisa à/na radio. Isso já foi assunto de algumas reuniões. E só não o fizemos ainda porque não temos recursos para custear tal atividade, nem temos interesse em sustentar isso de forma meramente voluntária. Essa não é uma decisão minha. Eu não mando no INOVE. Aliás, há outras pessoas tão do INOVE quanto da ACCORD com programas na radio. O que não tivemos ainda foi a condição de propor algo de forma institucional. Não se trata de falta de interesse. E do ponto de vista da participação individual de cada um, não temos nada a arbitrar.
Você ainda se refere a “entidades se valem de dinheiro público para financiamento de seus projetos”. Pareceu-me que você tentou agregar a essas instituições alguma qualidade pejorativa. Esclareço que o INOVE é uma dessas instituições. E, se não sabe, há formas lícitas de participar desses recursos públicos, sem depender de esquemas suspeitos de ações de políticos, na construção de emendas parlamentares ao orçamento, por exemplo. Atualmente o INOVE recebeu R$ 10.000,00 (dez mil reais) do Programa BNB Cultural, para realizar um filme crítico sobre “fuleragem”, que temos prazo até junho para concluí-lo e prestar contas. Para isso construímos um projeto e participamos de um edital público e fomos selecionados. Essa me parece uma forma lícita de participar de recursos públicos. Se você não sabe, foi através de procedimentos parecidos que conseguimos recursos para alguns projetos em Curaçá, durante a gestão de seu irmão. Foi com recursos advindos de projetos aprovados em seleções similares que pudemos construir não apenas a proposta pedagógica do município, mas ainda dar formação aos professores da rede municipal, realizar encontros nas comunidades e publicar vários livros para o município. Se informe sobre isso porque a própria ACCORD pode participar desses editais e seleções de forma lícita, e ter recursos para custear suas atividades. Não há mal nenhum nisso!
Vou deixar por conta do leitor a avaliação sobre os nossos teores de agressividade, falsidade e arrogância. Seria bom ainda que você mesmo avaliasse, diante da crônica “Reflexão Sobre os Otários”, se não se enquadra em algumas das qualidades lá mencionadas.
Por último, achei uma coisa curiosa o fato de a informação sobre sua resposta ter me chegado justo hoje, dia primeiro de abril, dia da mentira. Se à mentira foi concedida um dia, há algo de legítimo nela. Poderíamos arrolar que a mentira é uma condição unicamente humana; participa das convenções sociais, das regras de etiqueta, da vida pública, da política. Mentimos, sobretudo, para nós mesmos – talvez a pior das mentiras. Mas nenhum de nós está isento dessa condição, por algum artifício de razão. E aquilo que chamo de ética tem a ver com o esforço de evitarmos constituir nossas vidas sobre a mentira e a agressão. Eu teria ficado preocupado comigo mesmo, caso você tivesse me desmentido em sua carta ou feito algum gesto contrário ao que questiona. O que você fez foi se expor e expor as suas qualidades, tanto quanto eu o fiz, para o bem e para o mal. E, com estas duas cartas, estamos distantes de decidir, entre nós dois, quem é a pior das espécies.
Continuarei esperando uma resposta da ACCORD sobre se aceita a minha condição de cronista, dentro do viés por mim proposto, pois sua carta não responde a isso. De todo modo, não tenho interesse na continuidade dessa pendenga com Zé Alberto, tampouco me furtarei a responder se for necessário.
Solicito que você a publique no portal da Radio Curaçá FM, no mesmo endereço onde consta sua resposta (http://www.curacafm.org.br/curacafm?curacafm=noticias&id=21). Da minha parte ela estará disponível no meu blog pessoal (http://blogdopinzoh.blogspot.com/), onde será postada ainda hoje, e onde há a minha primeira Carta-Resposta.
Josemar da Silva Martins (Pinzoh)
Professor
Sr. José Alberto,
Esta carta não é à ACCORD, nem à Radio Curaçá FM. É uma carta á pessoa José Alberto. Ela será tornada pública pela única razão de que o assunto assim já se tornou. E porque a sua carta também foi enviada para várias pessoas, como a minha antes também foi. Não terá sido a primeira vez na História que isso ocorreu, quando o assunto é de interesse público. Talvez seja este o único modo de fazer com que outras pessoas aprendam, em contato com nossos equívocos.
Hoje reli várias vezes a minha carta-resposta que enviei a vocês, procurando encontrar os pontos em que eu poderia estar provocando a sua ira, afinal, é de ira e de arrivismo pessoal de que se trata a sua resposta. A começar pelo título que você utiliza (“OS EQUÍVOCOS DE PINZOH – Considerações sobre a Carta-Resposta grosseira e mentirosa do Professor”), sua carta é, em si, um discurso inteiro, que não precisaria de mais uma só palavra para dizer o que diz. Desde aí a minha carta a vocês é, a um só tempo, equivocada, grosseira e mentirosa.
Pelo visto sua resposta não se limita a uma resposta à minha carta-resposta, porque duvido que qualquer leitor encontre nela os atributos que você questiona. E espero que esta sua resposta não esteja permeada de resquícios de atritos que já tivemos, eu e você, em tempos passados, por conta de sua agressividade desferida contra uma pessoa que eu estimo muito, que não mora mais em Curaçá, mas que outras pessoas da ACCORD sabem bem de quem se trata.
Nesse sentido entendo que não há atritos entre mim e a ACCORD, ou entre esta e o INOVE (instituição que presido), mas esta celeuma parece que é entre nós dois. A sua carta não é da instituição ACCORD, mas sua. Os argumentos não são da ACCORD, mas seus. O teor dos sentimentos nos quais destilou suas palavras, não é da ACCORD, mas seu. E, nesse sentido, você usou como método de análise da minha carta (que duvido que tenha sido discutida em assembléia; como duvido que esta resposta seja do coletivo da ACCORD) os mesmos instrumentos que diz estar questionando em meu posicionamento. Se minha carta foi grosseira, espero que os leitores possam comparar as duas para inferir em qual delas há uma dose maior de grosseria. Em sua carta não sou apenas qualificado de equivocado, grosseiro e mentiroso, mas de nefasto (atribuição direta), narcisista, oportunista e leviano (atribuição indireta). Ou seja, você questiona a grosseria utilizando-se como recurso a própria grosseria; questiona a leviandade utilizando-se como recurso a própria leviandade.
Você expõe, de forma descontextualizada, a minha entrada precipitada na reunião da ACCORD da qual participei, e onde realmente entrei pela janela. Não vou pedir perdão por isso, mas seria bom que o leitor soubesse de que espaço se trata, de que janela se trata. Coloque uma foto dessa janela. Diga que é uma espécie de janela quase-porta, onde, naquele mesmo dia e em outros, algumas pessoas têm por hábito sentar nelas, e entrar e sair através delas, por estarem a meio metro do piso. Dê pelo menos algum elemento de contexto. Isso também se chama honestidade. Você poderia também lembrar porque eu fui parar naquela reunião sem ser convidado. Diga, por exemplo, que algumas pessoas do INOVE são também membros da ACCORD; por exemplo, a secretária da ACCORD é vice-presidente do INOVE. E além dela há outros membros comuns: Jane, Zé Íris, Dione, e alguns outros.
Naquele dia fui a Curaçá porque haveria uma reunião da frente de partidos que estavam discutindo como prover os cargos do Estado no âmbito do município, pela manhã, e pela tarde haveria uma reunião do INOVE. E aquele mesmo espaço utilizado pela ACCORD (no qual entrei pela janela) é também utilizado por outras instituições e grupos para suas reuniões. Algumas vezes ele serve às discussões partidárias, e já nos serviu várias vezes para reuniões do INOVE.
Em muitos desses espaços, agrupamentos e instituições, as pessoas são as mesmas. Portanto, aquela reunião poderia ser de qualquer um desses coletivos e, de fato, eu não sabia que era da ACCORD, senão não teria entrado, nem pela janela, nem pela porta, porque aprendi a respeitar espaços institucionais. Somente me dei conta de que tipo de reunião se tratava quando algumas pessoas, que são ao mesmo tempo membros do INOVE, do partido e da ACCORD, me informaram. Portanto, fui parar naquela reunião porque as primeiras pessoas que avistei ali eram comuns ou ao INOVE ou ao partido, ou à frente de partidos à qual já me referi.
A condição de “penetra”, como você qualifica, é apropriada sim, mas não sem contexto. Você sabe disso, mas joga de uma forma que nega ao leitor informações que poderiam fazê-lo encarar as coisas de outra maneira, afinal você mesmo participa de muitos espaços comuns, e participa dessas outras reuniões; aliás, você também faz parte do mesmo partido que eu. Mas você nega tais dados ao leitor, privando-o de informações que o ajudariam a elaborar de outra forma uma opinião sobre o ocorrido. Além disso, não achei que em um espaço em que há tantas pessoas em comum, sobretudo com estreitos laços afetivos, a minha presença, pela janela ou não, seria encarada com tanta reatividade. Só não sei se esta reatividade tem justificativas institucionais, ou é meramente pessoal. Quanto à privação de informações contextuais ao leitor, a pergunta que me resta é: em que esse procedimento se diferencia da leviandade? Pois é contra esse formato de comunicação e de informação invertida que luto.
Mas não falta ao leitor apenas o contexto específico sobre a minha entrada pela janela, em termos literais, na reunião da ACCORD; faltam-lhe também informações sobre o uso metafórico do “entrar pela janela”, atribuído a mim. Nesse caso, certamente é importante dizer que em minha vida “entrar pela janela” nunca foi o meu forte. Exceto o tempo em que trabalhei na roça e no posto de gasolina Asa Branca, ou na UNIMED, em Juazeiro (como vendedor de planos de saúde), e depois na Papelaria Emanuela, todos os meus outros trabalhos foram com ingresso através de concurso público. E, recentemente, em casos de consultoria e assessoria, foi por mérito, mesmo nos casos em que houve a indicação de algum político, como foi o caso a Assessoria à Prefeitura de Juazeiro, no governo passado, e agora, quando fui nomeado para a Diretoria de Currículos Especiais, da Secretaria de Educação do Estado da Bahia. Nem nesses casos o “entrar pela janela” é legítimo quando a mim é dirigido. Claro que as pessoas que não são de Curaçá – e que vão ler sua resposta – podem não me conhecer. Mas as que me conhecem devem saber disso, inclusive você mesmo. Está aí uma carapuça que não me cabe! Em relação a entrar pela janela, eu não sei se isso se aplicaria mais a mim ou a você.
Esse ponto é importante porque parece que estou clamando por um espaço na Rádio Curaçá FM. Achei que o convite me havia sido feito por razão de alguma qualidade que eu possuía. Mas vejo que sua carta me destituiu, no seu conceito particular, de todo e qualquer valor, como profissional e como cidadão. Pior será se a ACCORD concordar com isso. Ainda bem que minha dignidade não depende de seu ódio destilado! Se a ACCORD acha importante que eu contribua com a rádio, o farei de bom grado, e darei minha contribuição como já fiz a faço em Curaçá, em muitos outros momentos, e em diversas situações, porque Curaçá, a rádio e a ACCORD não podem ser reduzidas a essas pendengas pessoais que você quer sustentar. Não quero gastar minha energia com isso, porque tenho muito que fazer. Entre as minhas contribuições a Curaçá, me orgulho de ter sido um dos autores da Proposta Político Pedagógica que, embora institucionalmente desvalorizada no âmbito da administração municipal, pôde mobilizar um certo orgulho em muitas pessoas do município e, além disso, animou em outras relações institucionais, a valorização do município e da própria gestão municipal.
Você, embora diga que minha carta foi mentirosa, esqueceu de apontar as mentiras que constam nela. Em minha carta o leitor não vai encontrar uma só palavra afirmando que há uma “posição da emissora em não querer inovar”. O que nela consta é um trecho entre aspas atribuído a você: “não podemos começar as coisas já inovando”. Essa voz é sua, e não da rádio ou da ACCORD. E eu poderia dizer que as outras pessoas presentes na reunião poderiam testemunhar se essa passagem é uma mentira minha ou não. Mas acho bastante dizer que você mesmo a confirma em um trecho de sua carta: “Para inovar, e a História mostra isso em momentos diferentes da evolução do pensamento, é necessário, antes de qualquer premissa, conhecer-se e conhecer a realidade. Sem esse conhecimento inventaríamos talvez uma caricatura de rádio, que quer inovar, mas não tem o rumo certo para dar os passos seguros”. Sua carta confirma seu pensamento. E é em relação a ele que estou em desacordo; não é contra você. Não se trata de lhe difamar (recurso que você utiliza fartamente em sua carta). Trata-se de um posicionamento diferenciado do seu, que coloquei na minha carta e não vou repeti-lo aqui porque as pessoas podem muito bem lê-la na íntegra, na página eletrônica da Radio Curaçá FM.
Em relação a outros pontos de sua carta você desconsidera que o que questiono não é nem a rádio, nem a ACCORD, nem você, em particular. No programa “O Programador é Você” (do qual participei a convite de sua titular, a professora Jucélia, secretária da ACCORD e vice-presidente do INOVE), o que eu disse foi que tenho uma visão diferenciada em relação à redundante afirmação de que “tem que tocar o que o povo gosta”. É verdade que esta afirmação foi reiterada na reunião por um dos participantes e eu me referi a isso; mas não disse que este é o pensamento da emissora – e, apenas se assim eu o tivesse procedido, você poderia afirmar que me referi a ele de forma equivocada.
Na minha carta, Sr. Zé Alberto, caso você minimize a sua ira e a leia de forma mais cautelosa, vai encontrar uma discussão razoável sobre esse aspecto do tratamento dado ao “gosto popular”. Na minha precária visão, acho que o “gosto do povo” não cai do céu, puro como chuva, pois nem a chuva já não cai tão pura assim do céu. Essa discussão não é uma afronta a você: é um posicionamento conceitual, é uma visão de mundo, que você aceita ou não, mas não pode desconsiderá-lo nem tampouco arrolar isso como uma de leviandade desferida contra você ou contra a rádio. Releia a carta. Eu sei que você tem capacidade interpretativa suficiente para fazer outra leitura do que eu disse.
Em sua carta você ainda diz que “algumas entidades não se interessaram em veicular programas, inclusive o instituto que Pinzoh preside”. Sobre isso confirmo que o INOVE já foi convidado para apresentar alguma coisa à/na radio. Isso já foi assunto de algumas reuniões. E só não o fizemos ainda porque não temos recursos para custear tal atividade, nem temos interesse em sustentar isso de forma meramente voluntária. Essa não é uma decisão minha. Eu não mando no INOVE. Aliás, há outras pessoas tão do INOVE quanto da ACCORD com programas na radio. O que não tivemos ainda foi a condição de propor algo de forma institucional. Não se trata de falta de interesse. E do ponto de vista da participação individual de cada um, não temos nada a arbitrar.
Você ainda se refere a “entidades se valem de dinheiro público para financiamento de seus projetos”. Pareceu-me que você tentou agregar a essas instituições alguma qualidade pejorativa. Esclareço que o INOVE é uma dessas instituições. E, se não sabe, há formas lícitas de participar desses recursos públicos, sem depender de esquemas suspeitos de ações de políticos, na construção de emendas parlamentares ao orçamento, por exemplo. Atualmente o INOVE recebeu R$ 10.000,00 (dez mil reais) do Programa BNB Cultural, para realizar um filme crítico sobre “fuleragem”, que temos prazo até junho para concluí-lo e prestar contas. Para isso construímos um projeto e participamos de um edital público e fomos selecionados. Essa me parece uma forma lícita de participar de recursos públicos. Se você não sabe, foi através de procedimentos parecidos que conseguimos recursos para alguns projetos em Curaçá, durante a gestão de seu irmão. Foi com recursos advindos de projetos aprovados em seleções similares que pudemos construir não apenas a proposta pedagógica do município, mas ainda dar formação aos professores da rede municipal, realizar encontros nas comunidades e publicar vários livros para o município. Se informe sobre isso porque a própria ACCORD pode participar desses editais e seleções de forma lícita, e ter recursos para custear suas atividades. Não há mal nenhum nisso!
Vou deixar por conta do leitor a avaliação sobre os nossos teores de agressividade, falsidade e arrogância. Seria bom ainda que você mesmo avaliasse, diante da crônica “Reflexão Sobre os Otários”, se não se enquadra em algumas das qualidades lá mencionadas.
Por último, achei uma coisa curiosa o fato de a informação sobre sua resposta ter me chegado justo hoje, dia primeiro de abril, dia da mentira. Se à mentira foi concedida um dia, há algo de legítimo nela. Poderíamos arrolar que a mentira é uma condição unicamente humana; participa das convenções sociais, das regras de etiqueta, da vida pública, da política. Mentimos, sobretudo, para nós mesmos – talvez a pior das mentiras. Mas nenhum de nós está isento dessa condição, por algum artifício de razão. E aquilo que chamo de ética tem a ver com o esforço de evitarmos constituir nossas vidas sobre a mentira e a agressão. Eu teria ficado preocupado comigo mesmo, caso você tivesse me desmentido em sua carta ou feito algum gesto contrário ao que questiona. O que você fez foi se expor e expor as suas qualidades, tanto quanto eu o fiz, para o bem e para o mal. E, com estas duas cartas, estamos distantes de decidir, entre nós dois, quem é a pior das espécies.
Continuarei esperando uma resposta da ACCORD sobre se aceita a minha condição de cronista, dentro do viés por mim proposto, pois sua carta não responde a isso. De todo modo, não tenho interesse na continuidade dessa pendenga com Zé Alberto, tampouco me furtarei a responder se for necessário.
Solicito que você a publique no portal da Radio Curaçá FM, no mesmo endereço onde consta sua resposta (http://www.curacafm.org.br/curacafm?curacafm=noticias&id=21). Da minha parte ela estará disponível no meu blog pessoal (http://blogdopinzoh.blogspot.com/), onde será postada ainda hoje, e onde há a minha primeira Carta-Resposta.
Josemar da Silva Martins (Pinzoh)
Professor
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