a cidade está aqui, plantada em minha frente!
os carros em velocidade e ela parece parada
à primeira vista, são os móveis que se desviam
de suas pontudas esquinas...
ela cheira a borracha e gás carbônico
e eu atônito felizmente fluo entre seus descaminhos
seus fluxos de metal escorrem pelas vielas
em ruas largas, passarelas
mas nada minimiza o desamparo
sensação plantada entre tantos seus degraus
a cidade cresce para cima
mas se enraíza em seus subsolos
redes subterrâneas lhe irrigam
pelo holograma inexplicável dos seus condutores
aqui e ali desponta um tôco de concreto ou outro sintético
e brotam fluidos transnacionais de toda ordem
rugas e rusgas crescem entre os semáforos
utopias vermelhas enxovalhadas que portam luzes
e a sobra de uma sombra escura em forma de gravata
a cidade não é sua aparência paralítica
esta face dura que empata todos os trajetos
ela é sua imaterialidade animada
que se desvia dos carros e outros embustes
e abre buracos, e fende passagens
e faz todos andarem em sua velocidade
a cidade nos habita
mesmo se a gente a ela resiste
e quanto a isso é impossível retê-la em suas minúcias,
posto que ela excede-se a si mesma...
mas triste mesmo é que ela, em sua pressa
escondeu tão bem seu pôr-do-sol
por trás de seus arranha-céus.
enquanto suas nuvens negras
despertam a noite mais cedo
e a cidade alterna, então, os seus segredos
sobra ainda o segredo mais cruel:
- é que de tão perto que tornou-se o seu céu
quanto mais assim ele é tão seu
e quanto mais assim é menos céu!
(São Paulo, fim de tarde na Paulista em 13 de abril de 2007)
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