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segunda-feira, 7 de maio de 2007

O BRADESCO, O BRASIL E NÓS


Josemar da Silva Martins
Professor da UNEB no DCH III

Suponho que no Brasil já se tornou uma de suas qualidades o fato de todos nós falarmos mal dele. Uma mania paradoxal, porque no momento seguinte a gente inventa uma piada em que um brasileiro raquítico ganhou algum campeonato estapafúrdio (de peido, por exemplo), confrontando com um adversário forte, seja ele um português, um japonês ou um americano. Nessas anedotas o brasileiro sempre sai vencendo, como se a gente quisesse inverter alguma dizibilidade maldita que pesa sobre nós.

Mas no geral todos nós falamos mal do Brasil. E falamos mal de seus políticos. Mas isso não de forma incondicional. Atualmente, por exemplo, como quem está no poder não é legítimo representante das classes dominantes, essas classes falam mal de qualquer jeito. E olhe que isso é expressão de enorme ingratidão, tendo em vista que os ricos deste país têm ganhado muito dinheiro nos governos de Lula 1 e 2. Tanto que sequer podem acusá-lo de que faz assistencialismo para os pobres. Perto do que os ricos têm embolsado, o que é dedicado aos pobres é absolutamente irrisório.

Suponho que os donos do Bradesco sejam deste tipo de gente que fala mal do governo, mas, olhando os números suponho que pelo menos os senhores Amador Aguiar (dono-fundador) e Márcio Artur Laurelli Cypriano (diretor-presidente) não tenham nenhum motivo para isso. Aliás, pelas somas de lucros, o exemplo seria até um bom exemplo para um país que, como todos dizem a uma boca só, “precisa crescer no mínimo 5 % ao ano!”

A cada ano o Bradesco bate recordes de lucro e crescimento. No dia 09 de maio de 2005 a Folha Online anunciava que lucro do Bradesco (de 1,205 bilhão no primeiro trimestre de 2005) superara o do Itaú (de 1,141 bilhão). Seguindo essa tendência o Bradesco fechou o ano de 2005 com lucro líquido recorde de R$ 5,514 bilhões, resultado 80,2 % superior ao do ano anterior (em 2004 o lucro fora de R$ 3,06 bilhões). Esse lucro em 2005 foi tido como o maior da história entre os bancos de capital aberto de toda a América Latina.

Mas as coisas não param por aí, pois é pra frente que se anda! Em 2006, no primeiro trimestre, o lucro do banco foi de 1,53 bilhão de reais e fechou o ano com um lucro líquido de R$ 5,054 bilhões. Deveras houve em 2006 uma queda nos lucros da ordem de 8,3 % em relação aos resultados de 2005 (R$ 5,514 bilhões); mas é importante lembrar que essa queda deveu-se a amortizações de ágios referentes a aquisições realizadas pelo banco e contabilizadas no balanço de 2006. Ou seja, o Bradesco lucrou menos em 2006 porque investiu em importantes aquisições, para se confirmar como o maior banco brasileiro.

Agora nos chegam informações de que o lucro líquido do banco no primeiro trimestre de 2007 teve um aumento de 11,4 % em relação ao mesmo período do ano passado. O resultado foi positivo em R$ 1,705 bilhão de reais, ante o lucro de R$ 1,53 bilhão de reais em 2006 (e lembremos que os lucros de 2005 foi de “apenas” R$ 1,205 bilhão para o mesmo período). É um exemplo e tanto! “O Brasil deveria se mirar nele” – diriam alguns!

Eu, por minha vez, que sou cliente do Bradesco de forma forçada – pois sou funcionário do Estado da Bahia desde de 1991 e fui “vendido” como cliente ao Bradesco, juntamente com os ativos do antigo BANEB – não posso pensar igual aos que acham que o Bradesco é um exemplo. Primeiramente deve haver algum erro no fato de termos sidos todos “vendidos” ao Bradesco quando este comprou o BANEB. Na verdade o Bradesco acabou sendo o “banco oficial” da Bahia, afinal que espécie de coisa haveria para que um Estado como o da Bahia force seus funcionários a serem clientes de um único banco. Esse não seria um assunto para ser enquadrado em leis de licitações – afinal, é uma prestação de serviço, que implica na geração de lucros para a empresa prestadora? Que tipo de acordo haveria legalmente para nos mantermos escravos de um mesmo senhor? Isso é algo que me cutuca.

O outro mal-estar é o fato de o Bradesco acumular concomitantemente os títulos de maior banco brasileiro e de pior banco brasileiro. Evidentemente a propaganda só fala nos dados positivos. O que não se diz é que o Bradesco cresce e lucra cada vez mais à custa do sacrifício de seus clientes, à custa da má qualidade dos seus serviços, equipamentos, etc. Desde algum tempo tenho me habituado a ir ao banco disposto a reclamar dos seus péssimos serviços. Em geral os funcionários dizem que não é culpa deles. Dão um 0800 para você ligar e reclamar; Você vai e faz isso, pedem a você para anotar um número de protocolo e nada acontece. Há anos vou aos caixas de auto-atendimento do Bradesco e não houve uma só vez em que não houvesse uma máquina quebrada, uma fila grande...

Eu até já adotei um slogan para o banco: “QuebraBradescompleto: colocando você sempre diante de uma máquina quebrada, uma fila enorme, um aborrecimento qualquer”. Acho que esse não deveria ser exemplo algum para o Brasil seguir. Além desta lógica de seguir lucrando à custa da miséria e do sofrimento, é a mesma lógica de sempre. Não merece nenhum crédito, pois crescer e ganhar dinheiro, ao invés de ser um meio para melhorar a vida das pessoas, virou finalidade única e exclusiva. A despeito do dinheiro que estas instituições gastam com a propaganda de que cumprem com sua “responsabilidade social”, desconfio que esse é o emblema que mascara o “não to nem aí pra isso”!. Responsabilidade social é tratar bem as pessoas, e poderia começar pelos clientes que fazem os estrondosos lucros do banco.

Mas banco não tem alma e não adianta reclamar, falar com alguém ou ligar no 0800. Eu, por minha vez, adotei outra estratégia. Todas as vezes em que me deparo com esta situação eu pego um daqueles envelopes para depósito, que têm uma borda adesiva, e colo na tela da máquina quebrada com a seguinte anotação: “esse banco é uma bosta”. E fico aliviado!

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