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segunda-feira, 18 de junho de 2007

A CRISE DA MÍDIA

Josemar da Silva Martins (Pinzoh)
Professor da UNEB no DCH III (Juazeiro)


A mídia brasileira está um tanto confusa! Prestemos atenção nos discursos que são veiculados nela, como há alguns que não são combináveis. Por um lado há um forte e constante questionamento do Governo Lula em dois pontos essenciais: a) o crescimento do país; b) a corrupção no governo. Em ambos os casos, há discursos divergentes e até inconciliáveis. E por outro lado não consegue oferecer uma contrapartida em termos de outros assuntos relevantes.

No caso do crescimento econômico todo mundo alardeia que o país está crescendo mediocremente; o país está paralisado, atrofiado, etc. E nesse assunto há sempre os que aparentam saber muito, sendo que uma parte desses sabedores são jornalistas (que, afinal, pretendem entender de tudo). Ao mesmo tempo (e ás vezes na mesma matéria) se diz que o poder aquisitivo da população aumentou; que está havendo mobilidade social com a inserção nas condições de participação no consumo de classes sociais e setores totalmente excluídos dessa participação. Diz-se que as pessoas estão comprando mais e que, inclusive, as pessoas estão consumindo coisas que não tinham por hábito consumir, como o entretenimento, a diversão, o lazer, etc., e até estão entrando no consumo de bens mais supérfluos que estão fora da “cesta básica” das necessidades primárias. Estão trocando bens móveis, automóveis e imóveis. Há aí algo a ser esclarecido: afinal, o país está ou não está numa fase boa? Está ou não está crescendo?

Não se trata de negar que ele precisa investir em infra-estrutura, melhorar as estradas, os portos; melhorar as vias por onde devem circular os fluxos do desenvolvimento e do crescimento. Mas trata-se de uma coisa mal explicada. Por exemplo, houve um momento, enquanto o dólar caía que houve reclamações, bloqueios de estradas, protestos. Claro que este “movimento” (em ano eleitoral, é importante não esquecer) era de quem negocia em dólar, e se coloca mais na perspectiva externa do que interna. Houve até manifestações explícitas na imprensa, na TV, alegando que o dólar baixo era uma ficção, que se o dólar baixasse mais o país quebraria etc. E o dólar despencou e o país não quebrou – inclusive nos parece que os manifestantes estão descobrindo que também podem lucrar com a baixa do dólar. Há coisas aí que poderíamos entender melhor se a mídia brasileira fosse melhor informada e menos instrumentalizada pelo jogos de interesse.

O outro ponto é a questão da corrupção do governo. No ano passado a velha elite em processo de esclerose apoderou-se das cagadas dos aloprados do PT para dizer ao país que jamais houve momento na história da República em que se viu tanta corrupção. Não só isso, mas fazia-se crer que essa corrupção era praticada exclusivamente pelo governo. E, aproveitando-se de nossa memória curta, se dizia: “nunca houve governo tão corrupto”. O PLF (agora DEM) pousou de paladino da moralidade (esquecendo que os principais escândalos de corrupção do país na história recente da República foram protagonizados por gente do PLF ou por ele apoiada).

Mas agora surge um fato curioso que a mídia trata de forma extremamente “vacilona”. É o caso das corrupções tornadas públicas pela Operação Navalha, especialmente no tocante ao senador Renan Calheiros (PMDB-AL). Por um lado foi o próprio Renan que enquadrou o Senado. Diante da iminência de uma investigação das suas relações com a rede de corrupção que envolve contratos com construtoras, ele foi esperto: defendeu que, se fosse para investigar, que se fizesse uma investigação geral e profunda, das relações que o congresso tem com empreiteiras. Claro que ninguém quer um negócio desses. Aliás, foi essa a razão de terem escolhido para relator um senador que se encontrava ausente, Epitácio Cafeteira (PTB-AM). Coitado! Herdou o abacaxi, pois ninguém queria se comprometer ele. Nem o próprio Cafeteira! Por isso inocentou Renan e agora está solicitando afastamento do Conselho de Ética, alegando problemas de saúde. Ora! Nós podemos no mínimo desconfiar de tais procedimentos. Nós sabemos que as relações do Congresso Nacional com as redes de corrupção não são nada amistosas. Nós abemos inclusive, de onde vêm os patrimônios da maior parte dos deputados e senadores, em geral incompatíveis com suas próprias rendas declaradas.

Claro que a mídia não quer explorar isso – embora saiba como as coisas funcionam! Todos nós sabemos que já se formou uma “cultura da licitação” que vai do mais alto ao mais sorrateiro escalão de poder. Conheço uma pessoa que trabalha com captação de recursos em grosso volume na região Sudestina (com prioridade para São Paulo e Rio de Janeiro). Ela me assegurou que todas as empresas, quando vão participar de licitações, sempre aumentam os preços em no mínimo 30 %. E uma parte dessa cifra é geralmente doada como prêmio aos titulares do órgão no qual a respectiva licitação se dá. É assim que uma boa parte dos políticos (senão todos, especialmente as “raposas velhas”) custeia suas campanhas e mantém suas redes de beneficiamento e dependência política entre eleitores. Ainda mais quando se tratam de contratos milionários ou bilionários como aqueles que se estabelecem com empreiteiras que trabalham com grandes obras. Não esqueçamos que uma parte dessas empresas pertence a políticos, como se pode ver na Bahia, no Maranhão... e onde mais?

O problema da mídia é que não quer falar sério! É que se for escarafunchar demais, pode chegar nos modos como a própria mídia brasileira se estabeleceu, num sistema formidável de beneficiamento de compatriotas e comparsas, como é o caso especialmente da TV no Brasil. A rede de corrupção é muito mais ampla, e é claro que ninguém quer mexer nela. Esse foi o pulo do gato de Renan Calheiros. No fundo ele não é nem mais nem menos corrupto que a maioria esmagadora dos nossos políticos, de esquerda e de direita.

Mas a mídia não tem pulso para assumir isso. Prefere ficar estandardizando o “relaxe e goza” da Marta Suplicy!

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