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segunda-feira, 18 de junho de 2007

NOSSA ATUAL PERDIÇÃO:

Contribuição à constituição de uma teoria da greve atual


Josemar da Silva Martins (Pinzoh)
Professor da UNEB no DCH III (Juazeiro)

Cada dia me sinto mais confuso! A minha confusão agora é em relação às greves de professores na Bahia, tanto a da Educação Básica, quanto a da Educação Superior. Em uma de nossas discussões no DCH III um colega disse com muita ênfase que, uma coisa ele tem certeza: que ele pertence a uma categoria de trabalhadores, a categoria docente. Se para ele isso esclarece tudo ou quase tudo, para mim isso não esclarece quase nada. Desconfio que essa consciência de classe nós não chegamos a construir – e nem sei se isso é bom ou é ruim.

Talvez, se abandonássemos um pouco os chavões, as frases de efeito (que confundem mais do que esclarecem; por exemplo, o que quer dizer atualmente “reforma neoliberal da educação”?), restasse uma pequena fresta para pensarmos as contradições que envolvem nosso “movimento”. Uma delas é que, em que pese essa insistência de alguns em falar em nome da “classe dos professores” com uma suposta legitimidade, não conseguimos explicar porque o “movimento docente” se faz com tão pouca gente. As assembléias que deliberam sobre a própria greve sequer atingem 10% do número de professores, no caso da UNEB. No caso da APLB esse índice é muito menor. Não há procedimentos de representação e os líderes sequer aceitam que se discuta isso, em nome da democracia que eles mesmo dizem estar de acordo. No caso da UNEB o seu caráter de multicampia jamais foi levado a sério pela ADUNEB, embora os seus líderes cobrem isso das instâncias de gestão da Universidade. Esse detalhe permanece como algo para o qual aparentemente sabemos o que é certo (e cobramos dos outros), mas não sabemos praticá-lo.

Em relação à consciência de classe chegou-se a aventar que as pessoas que se colocam criticamente em relação à greve – e colocam questionamentos como os que estou tecendo aqui – não tem consciência de classe e estão instrumentalizados pelo Governo para defendê-lo. Ocorre que, como não somos crianças, sabemos também como nossa consciência de classe está eivada de posições divergentes, e que, nesse exato momento há uma parte de nós que é vinculada a um movimento de oposição que não começa e nem termina com o Governo Wagner e já era seu opositor antes mesmo de ele se iniciar. Esse campo de disputa política que extrapola o próprio Estado da Bahia foi, em boa medida, o que acelerou a nossa atual greve (não esqueçamos, por exemplo, que temos um colega, que está na liderança da greve, que foi candidato a Governador). Não dá pra falar aqui em consciência de classe, mas em interesses políticos que sequer se assentam mais em oposições do tipo esquerda-direita. Eis a dinâmica de nossa greve! Em nossa comissão de greve, temos colegas que tiveram sua participação questionada na comissão porque tinha uma posição diferenciada, ou seja, só temos capacidade de acatar o tipo de pensamento inteiramente convergente. Qualquer outro, rapidamente pode ser taxado de outra coisa.

Há quem diga, por exemplo, que aquela ira com a qual Rui, da APLB, se coloca na TV Bahia (e olha como ele está na mídia como nunca esteve, virou astro) é uma ira dirigida exclusivamente ao Secretário de Educação, Adeum Sauer, pela razão de que no movimento paredista há quem gostaria que o secretário fosse outro, ou outra. Há quem afirme que o trabalho ali, da greve da APLB, é de desgaste do atual secretário.

Outra mudança que precisamos ter capacidade de interpretar e reagir a ela, é ao formato que a TV Bahia assumiu rapidamente. Nunca houve tanto debate na TV Bahia, nunca Casemiro Neto foi tão ávido e "livre" com seus entrevistados, ao cobrar explicações da parte do governo. Se fôssemos ingênuos poderíamos achar é como se, finalmente, o pessoal da TV Bahia estivesse aprendendo a fazer televisão, inclusive diversificando seus convidados. Uma vez, em um dia 15 de outubro não lembro de que ano, dia dos professores, dei uma entrevista à TV Norte (atual TV São Francisco, em Juazeiro) à repórter Sibele Fonseca. Naquele momento estávamos também em uma greve nas universidades baianas e o governador, salvo engano, era Paulo Souto. No final da entrevista Sibele me perguntou se havia o que os professores comemorarem. Eu respondi que não, exatamente pelo tratamento que o Governo do Estado estava dando aos professores e à educação baiana. Como o programa não era ao vivo, Dadau, que era diretor na TV, falou pelo ponto da repórter que eu deveria refazer a minha resposta, porque eu havia me referido ao Governo do Estado da Bahia, e não podia.

Olha, vejam só! Como a TV Bahia se tornou “democrática”. Não me surpreenderia se daqui a pouco ela estivesse nas ruas, reivindicando “liberdade de expressão”, se colocando numa condição de “oprimida” e, ainda por cima, contanto com o nosso apoio de “classe trabalhadora”, consciente de sua “condição de classe”, e vigilante em sua “memória das lutas da categoria”. Será que em outros tempos essa nossa “revolução” seria televisionada?

Será que depois que fragilizarmos o atual governo (ainda em formação) seremos convidados à festa da direita, e teremos o direito de emitir uma opiniãozinha na TV Bahia? Sobretudo, tomara que estejamos com a disposição que estamos agora de abrir o verbo como estamos abrindo, com tanta ira nos olhos. Da minha parte acho que nem Rui, da APLB, nem qualquer um de nossos líderes da greve das Universidades Estaduais, têm a mesma coragem quando se trata de encarar os olhos do carlismo.

Será que diante disso teríamos condição de avaliar quem “instrumentaliza” quem? Quem está sendo “instrumentalizado” por quem? Teríamos condição de avaliar em quantos pedaços se despedaçou a nossa “consciência de classe trabalhadora”? Espero que aceitemos o fato de que esta greve tem muitos motivadores que extrapolam a pauta ordinária de nossas reivindicações e a suposta moldura de nossa “consciência de classe”.

Aceitem o atual grau de minha atual “perdição” e a legitimidade das questões que ela permite levantar.

Um comentário:

Célia Regina Carvalho disse...

Sobre Pinzoh que é sinônimo de músico, de artista, compositor, poeta, doutor e tantas outras qualidades, é também... alguém que por mais que eu conheça, não conseguiria jamais defini-lo num só personagem...

Mas, Pinzoh é também, um nordestino que me enche de alegria e faz com que, a cada dia eu ame mais a Bahia... Não era pra rimar, mas qdo eu penso ou vejo Pinzoh... sinto-me como se estrivesse dentro de uma poesia de um nordestino que sabe extamente o valor que tem ser um baiano como Pinzoh...
Aff!
Dizer que sou sua fã é pouco...

Bjus

Célia Regina