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segunda-feira, 18 de junho de 2007

“NOSSO” DE QUEM, SARARÁ?

Josemar da Silva Martins (Pinzoh)
Professor da UNEB no DCH III (Juazeiro)

Há alguns dias comecei a escrever algo sobre a constituição e a condução do governo Wagner, mas me retive por várias vezes, por diferentes motivos. Um deles é a minha própria implicação com o governo, já que fui nomeado (embora não tenha tomado posse) para uma das Diretorias da SEC (a de Currículos Especiais); e já que, agora mesmo, há um processo de consultoria em vias de se consolidar – e eu espero que se confirme!

No entanto, há muitos outros motivos que me convocam a finalizar o que iniciei. Um deles é o fato de eu ser cidadão, eleitor, filiado ao PT, e perceber certas incongruências na condução dos processos de composição do governo. Por outro lado vivo outra crise como funcionário do Estado, enquanto professor da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) desde 1994. Nesta, por exemplo, estamos vivendo uma greve (juntamente com os docentes das outras universidades estaduais), em função do acúmulo da precarização nas condições básicas de funcionamento do ensino superior. Não apenas faltam-lhe os recursos para as atividades de ensino, pesquisa e extensão, como também faltam estruturas físicas e equipamentos e até materiais de expediente, tão essenciais quanto detergente e papel higiênico. Hoje mesmo soubemos também que a empresa de segurança vai demitir os guardas, em decorrência dos vários meses de pagamentos em atraso.

De fato estou entre dois universos. E titubeio! No momento em que a greve começou a se esboçar, eu me posicionei contra ela, alegando que é muito cedo para o governo dar as respostas que dele esperamos, considerando que ele herdou um orçamento aprovado na gestão passada, bem como os muitos problemas e vícios infestados no serviço público pela tradição política carlista. Logo depois me inclino a aceitar que o governo deveria ter se antecipado, fazendo funcionar o que tinha que funcionar, negociando e implementando pequenas reformas e reajustes, abrindo diálogos setoriais e implantando um planejamento transparente e participativo, inclusive ao estabelecer os números para compor o PPA para os próximos anos. Então me inclino a aceitar o que as pessoas comuns dizem pelas ruas, por onde passamos (com a frase já convertida em piada): “o governo Wagner ainda não tomou posse”.

Por minha vez acho que o que tem acontecido é que “o governo” não consegue se acertar consigo mesmo. Por um lado porque ele já começou de forma absolutamente equivocada. Um governo que prometeu mudanças não pode simplesmente reproduzir as mesmas velhas formas de se fazer governo, utilizadas pelo carlismo. Mas isso tem efetivamente acontecido: onde antes questionávamos os cabides de emprego, agora brigamos para definir quem será o novo donatário do cabide. Isso não passa de uma forma pouco disfarçada de patrimonialismo.

É isso que ocorre, por exemplo, em Juazeiro, BA, na definição dos cargos e funções. Aqui o critério para prover cargos é apenas um: BU (Boletim de Urna). Quem teve mais voto, tem poder de mando, encarna a figura do coronel contemporâneo, que define, indica e veta e ainda pousa de democrático. As vagas nos estabelecimentos, todos nós sabemos, foram loteadas entre os partidos da base aliada (briga que dura até agora), e dentro do PT as vagas que lhe couberam, foram loteadas entre as tendências, seguindo o mesmo critério do BU.

Curiosidades à parte, um caso exemplar é o do Centro de Cultura João Gilberto. Na matemática do loteamento dos cargos e da troca dos donatários, o CCJG acabou se tornando propriedade de uma das tendências do PT, a AE (Articulação de Esquerda). Essa é uma primeira privatização, tão sutil que a gente nem percebe: o CCJG pertence à AE. Como nesta tendência há uma pessoa com maior expressão no meio artístico-cultural, logo a vaga do cargo é exatamente desta pessoa. Esta pessoa é Márcio Ângelo (Marcinho).

Claro que os nobres companheiros entendem que estão fazendo a coisa da maneira mais correta, e quando a gente quer questionar este formato, é subitamente confundido com alguém que quer tumultuar o processo, pois já está tudo decidido, tendo havido inclusive a elaboração de uma fórmula matemática específica para solucionar o processo de loteamento. Se a gente quer saber em que pé anda esta questão ou se quer problematizar este formato, a resposta mais comum é: “companheiro, você não participou da discussão” (leia-se: do loteamento).

Os nobres companheiros estão simplesmente privatizando a discussão, restringindo-a ao círculo restrito dos “eleitos”. Esquecem-se, por exemplo, que o “meio ambiente” da arte e da cultura em Juazeiro é muito mais amplo, e tem muitas histórias a contar. Há um coletivo grande de pessoas que fazem arte de forma militante (não em termos partidários, claro) que sequer são tidas como pares nessa discussão. Esse aspecto piora a sensação de privatização.

O caos e a crise que se anunciam no governo Wagner é fruto dessa arrogância dos companheiros que privatizam tudo com base no critério do BU, e desconsideram que há outras histórias em andamento, movimentos com agendas construídas há bastante tempo – inclusive com avanços já firmados nos governos anteriores (apesar do carlismo). Não se pode simplesmente jogar isso fora, e transformar todos os sujeitos não alinhados aos guetos das tendências em opositores automáticos. Mas é isso que tende a acontecer! É como se essa galera quisesse governar por apenas um mandato – como ocorreu no governo Joseph, em Juazeiro, pois só há um culpado pela sua derrota: o próprio governo Joseph.

Pois é contra essa atitude mesquinha que venho me pronunciar publicamente. O governo precisa urgentemente abandonar o “balcão de negócios” para tornar-se ágil e competente. Os companheiros precisam desprivatizar a discussão a respeito dos órgãos públicos e dos cargos a eles inerentes. Precisam ver menos inimigos entre aliados e abandonar a tática isolacionista. Isso é prenúncio de derrota futura. Além disso, o governo precisa acontecer!

É contra essa arrogância de gueto que me pronuncio contra a privatização do Centro de Cultura João Gilberto sob o critério do BU e sob domínio da Articulação de Esquerda. Posiciono-me contra a indicação PRIVADA do nome de Márcio Ângelo para ser seu diretor (e não há nada de pessoal nisso), pois é uma indicação de gueto, privatista e até onde sei sem o respaldo da classe artística de Juazeiro.

E se é Marcinho mesmo o indicado, porque ele ainda não foi nomeado? Há alguma coisa mal-explicada nisso. Recentemente ouvi dizer que Luiz Galvão (aquele dos Novos Baianos) está andando rua acima rua abaixo com um abaixo-assinado indicando o seu nome. Acho essa outra solução também desastrosa, inclusive por Luiz Galvão já foi diretor do CCJG e não foi lá essas coisas. Há, certamente, outras pessoas e capacidades a serem reconhecidas.

O meu posicionamento aqui se deve a esse fechamento dos companheiros em discutir tais questões. E nesse sentido, sugiro que a discussão da direção do Centro de Cultura João Gilberto seja reaberta e que outros nomes sejam postos à análise. Aqui vai a sugestão de um nome que desde já me coloco em campanha para defendê-lo – principalmente porque não está alinhado aos guetos das tendências do partido: Antonio Carlos Coelho de Assis (Coelhão).

Pois, se a direção das coisas for essa perspectiva privatista, não se pode dizer que esse governo é “nosso”. “Nosso”, de quem, sarará?

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