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segunda-feira, 25 de maio de 2009

A LOUCURA EM MOVIMENTO

Na manhã do último dia 19 de maio de 2009, no Auditório Clementino Coelho do Centro de Convenções de Petrolina, participei de um dos mais inisutados acontecimentos, entre os muitos para os quais sou chamado. "A LOUCURA EM MOVIMENTO" nomeou um evento comemorativo ao Dia Nacional de Luta Antimanicomial. Os debates da mesa para a qual fui convidado orientavam pelo mote "O que é loucura, afinal?".
Boa pergunta, pensei eu! E lá no autidório, todos tinham de louco, um pouco! Usuários dos CAPS, loucos varridos, alunos da UNIVASF, professores, médicos psiquiátricos, artistas, coordenadores de centros de apoio prsiquiátrico... A mesa, então, estava bem representada!

Antes da nossa mesa vi um vídeo de um usuário do CAPS em Minas Gerais, contando um música que dizia algo como: "alguma coisa está querendo sair de dentro de mim; será um caminhão carregado de cimento; ou será um sentimento...". Boa! A loucura é isso: alguma coisa querendo sair, crescendo dentro... Precisa sair!

Para mim que não sou da medidcina - e sei que há na medicina esta pretensão de ser o único campo em que se pode produzir o discurso legítimo sobre a loucura - acho que a discussão é boa! Acho ainda que a loucura é um tema múltidisciplinar. Aliás, a primeira coisa a considerar é o fator contextual da loucura. Basta que uma convenção ou uma conveniência qualquer seja ignorada para que se produza uma situação de loucura. O louco, neste caso (na política, nas relações sociais...) é aquele que coloca-se contra uma ordem estabelecida. Ou então é uma desordem fora do lugar - pois, certamente há um lugar onde se pode ser louco à vontade...
O louco, então, é o imprevisível, o portador da força indomável, uma temível materialidade. Por isso é preciso "educar", como primeiro ato de "cura". Foucault já temtizou quase à exaustão os viesses em que a loucura é epnas este dispêndio de desajuste a alguma regra estabelecida. Por isso é preciso mais que educar: é preciso reter, interditar, silenciar... Assim, fui eu o louco que com outros loucos pixamos a parede da Prefeitura, questionando o despotismo que ali reinava, na minha pequena cidade, tornada feudo. Assim fomos os loucos que saimos no carnaval de paletó, gravata e cueca; que recitamos em cima dos postes do calçadão, que ouvimos rock ("eu presto atenção no que eles dizem, mas eles não dizem nada..."), que pomos brincos nas orelhas, que tomamos banho pelados na ilha e usamos roupas um tanto fora de moda... Para nós estavam reservados os recursos da cadeia ou do manicômio, como procedimento normal.

É correto pensar que há, como no filme "As Loucuras do Rei Georege", uma situação de alteração orgânica, em que a pessoa já não controla duas próprias escolhas. Mas nem isso está ausente de motivações contextuais. A sociedade de agora, por exemplo, é uma formidável fábrica de ansiedades e depressões. Leiam a Caros Amigos, edição do mês de maio de 2009. Ali há uma entrevista com a psicanalista MARIA RITA KEHL, onde, falando de seu livro, analisa as conseqüências do ritmo frenético da vida contemporânea e aponta a depressão como sintoma social (leia trechos). Nunca vi uma geração tão facilmente depressiva! Nunca a palavra depressão se banalizou tanto. Em "O Vestígio e a Aura: corpo e consumismo na moral do espetáculo", Jurandir Costa Freire analisa bem algumas situações, e entre elas, o hedonismo, o narcisismo, a doenças somáticas de todo tipo, as bulimias e aneroxias, e estultia, resultado das excitações cotidianas, das promessas não cumpridas, das autopunições em razão disso e da assunção da impotência e da autocomplacência. O resultado nunca é tranquilo! Como diz Gabriel, O Pensador, "Aquilo que o mundo me pede, não é o que o mundo me dá". Esta é a fábrica de loucura que não cessa! A felcidade tornou-se paradoxal, segundo estudos do francês Gilles Lipovetsky. O gozo sempre postergado, adiando, não cumprido - principalmente quando a promessa é sempre de um gozo excepcional e até extra-humano. Mas ele nunca vem! É sempre aquela normalidade pífia. Frustração que vira buraco sempre mais aprofundado, para ser enchido de tudo que é apetrecho material e sensorial: a vertigem do consumo, a aneomania, a velocidade, o êstase, a moda, o fetiche, a droga... Isso dá dinheiro! As indústria e sua publicidade não param de sacar desta conta e de aumentar o rombo! No fim das contas, são as pessoas que, sozinhas, têm que ser responsabilizadas pelo descontrole. São elas que pagam, em seus corpos, com seus corpos, essa conta. São elas as encarceradas, as interditadas, as mutiladas!

Mas a conversa versou sobre esperanças. Aquilo que quer sair, que precisa sair e como oportunizar a saída. Os monstros que devem ser exorcizados, não exigem tanto as drogas científicas destinadas a este fim, mas as oportunidades de desinterdição. É preciso destrancar o sujeito! A arte, as produções expressivas, o movimento, a dança, o riso, a minimização da solidão! Às vezes, isso é quase tudo o que uma pessoa precisa para voltar a si, recuperar o cuidado de si, tomar de volta o controle de suas escolhas.

Achei bacanas as conversas! Mas acho ainda que os governos deveriam criar mais oportunidades para as novas e velhas gerações, para acalentar nossas loucuras. As nossas cidades continuam feias, sujas, barulhentas e ivadidas por tudo que é porcaria. É preciso abrir outros destinos!

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