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quinta-feira, 11 de junho de 2009

DO CORREIO CAROS AMIGOS

Peço permissão à Revista Caros Amigos e ao Correio Caros Amigos para replicar aqui, o escrito abaixo, que recebi por e-mail e que vem datado de 10 de junho de 2009. Na verdade é apenas a minha contribuição no oferecimento de outra posição e de outra visão das coisas, que não seja aquela emanada das grandes corporações da mídia nacional e nem da ANJ. Aliás, a justificativa do meu interesse por isso pode ser acrescida da informação de que eu não sou jornalista; sou educador.
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Nova descoberta da Petrobrás abala mídia grande


A criação do blog da Petrobrás merece atenção não apenas por levar a público informações relevantes sobre a maior empresa do Brasil – isto já era feito por sua página na Rede. O grande diferencial do blog está em sua postura firme e decidida na divulgação de sua versão dos fatos e, o que é mais importante: a crítica contundente – e elegante – do posicionamento editorial das corporações de mídia




Foi assim com a Folha de S. Paulo, que afirmou em sua edição do dia 6 de junho que a Petrobrás possui 1.150 jornalistas em sua equipe de comunicação, mas não publicou o desmentido enviado pela empresa. No dia seguinte o blog denunciava a omissão. O mesmo foi feito com matérias publicadas pelos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo. Em postagem no dia 5 de junho, o blog da Petrobrás registra, na íntegra, todas as perguntas enviadas por esses três jornais, bem como as respostas encaminhadas pela empresa. E sempre fazendo questão de dizer que apóia a liberdade de imprensa e de ampla circulação das informações.

Com menos de uma semana de vida, o blog foi alvo de violenta crítica de O Globo. Matéria publicada em edição dominical (7 de junho) acusa a empresa de “vazar informações”: “Empresa quebra confidencialidade de perguntas enviadas à assessoria de imprensa pelos veículos de comunicação”, diz o subtítulo. O texto começa afirmando que a Petrobrás é “alvo de suspeitas de má gestão e favorecimento político em contratos”.

A onda raivosa contra a Petrobrás chegou ao ápice neste dia 8 de junho com a divulgação de nota da Associação Nacional de Jornais (ANJ), espécie de confraria das virgens imaculadas da imprensa. A cara de pau é tanta que o senhor Júlio César Mesquita, que assina a nota, afirma que o blog encampa uma “prática contrária aos princípios universais de liberdade de imprensa” e que se trata de uma “política de comunicação que visa a tutelar a opinião pública, negando-se ao democrático escrutínio de seus atos”. Como, santo Deus, se o blog publica tudo na íntegra – diferentemente das corporações de mídia?

Na verdade, a nota da ANJ é bastante esclarecedora. Se lida ao contrário. Para tanto, basta lembrarmos que atores patrocinaram um golpe de Estado no Brasil, em 1964, em nome da democracia e da liberdade de imprensa. E para que não restem dúvidas vamos consultar a história recente do país e relacionar os setores que sempre lucraram ao manter a opinião pública debaixo de rígida tutela, sobretudo numa época em que não existia a internet – cujas possibilidades põem em marcha uma verdadeira revolução nos meios de comunicação no mundo inteiro. Por fim, vamos notar que esses grupos são os mesmos. E são também os mesmos que juravam de pé junto que no Brasil não existia petróleo...
O argumento político das suspeitas de má gestão e favorecimento político em contratos – todos levantados pela direita entreguista, vale destacar – não se sustenta, posto que acusações semelhantes são simplesmente ignoradas pelos mesmos veículos de comunicação. Exemplo: a denúncia feita pelo deputado federal Ivan Valente ao Núcleo Piratininga de Comunicação de contratos suspeitos firmados entre a editora Abril e o governo do Estado de São Paulo, controlado pelo PSDB. Segundo o parlamentar, nada menos que 10 milhões de reais foram destinados à empresa, sem licitação, só no segundo semestre de 2008.O fato é que o monopólio dos meios de comunicação de massa no Brasil acostumou-se a descrever o país segundo sua própria concepção de mundo. Como não havia voz discordante, esse sistema sempre esteve à vontade para mentir, distorcer, manipular e omitir informações, sem jamais encontrar uma força política proporcional que lhe opusesse resistência.

Esse momento talvez tenha chegado. Agora, a maior empresa brasileira – e a maior do mundo em tecnologia de prospecção de petróleo em águas profundas – criou uma ferramenta capaz de fazer frente à máquina de propaganda neoliberal. Em menos de uma semana o blog da Petrobrás alcançou nada menos que 100.000 visitas, uma repercussão capaz de desestruturar o esquema dos veículos que manipulam as informações para prejudicar a empresa. Se milhares de pessoas passam a ter acesso aos argumentos da Petrobrás diretamente da fonte, e os comparam com o que foi publicado pela imprensa, então esta imprensa é quem será julgada pelos leitores. A nova descoberta da Petrobrás abalou a tática da mídia grande, que consiste em dizer sem permitir o contraponto.
O acesso a diferentes fontes com o advento da internet, aliás, pode ajudar a explicar o recente relatório divulgado pelo Instituto Verificador de Circulação, que aponta declínio na tiragem dos jornais de maior circulação no Brasil. Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e O Dia estão entre os que mais perderam circulação, sobretudo neste primeiro trimestre de 2009. Não vendem, nem influenciam tanto quanto antigamente. O Globo, só na última década, perdeu mais de 20% da circulação. Por outro lado, a tiragem dos jornais populares e democráticos vem subindo, como evidencia o próprio blog da Petrobrás e outras tantas iniciativas.
Por fim, é preciso ressaltar que se a maior empresa do Brasil vem mudando a partir da nova gestão – mais contratações em concursos públicos, novos investimentos no país e aumento no lucro líquido – ainda existem problemas que prejudicam substancialmente o desenvolvimento do país, sendo a manutenção da quebra do monopólio estatal do petróleo o mais grave deles. E num momento em que os contratos da empresa são questionados, dou minha contribuição: por que não investir na criação e consolidação dos jornais, revistas e blogs que, faz tempo, têm mostrado que praticar Jornalismo ainda é possível? Uma imprensa que mereça este nome é o pilar que resta ser erguido para a constituição da democracia no Brasil.




[Marcelo Salles, jornalista, é coordenador da Caros Amigos no Rio de Janeiro, editor do jornal Fazendo Media e integrante do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social.]
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