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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

FORA D'ÁGUA

Não sei porque quero começar a dizer isso
Nem pensei se querem ouvir-me
Sei apenas que me vem, de vez em quando,
Uma vontade de retorno...
De voltar a correr pela caatinga em tempo de chuva
De correr descalço pelas grotas,
Pelos córregos e riachos
De olhar aquelas ervas frágeis
Rompendo o casco endurecido do chão
Sem mesmo querer entender aquilo que ocorre ali
Sem mesmo pensar se não é a terra que se abre
Para que aquelas ervas frágeis amanheçam...

E essa lua que me mira?
Essa lamparina insistente contra mim. Que não pisca.
Às vezes tenho medo que ela me enfeitice: fecho a porta.
Tenho medo de já ser tão outro
Que já não caiba naquela vereda estreita
Que já não reconheça a correnteza
E nem me apeteça mais o cheiro de terra molhada...

Se me pergunto quem sou e aonde vou
Não o faço a vocês que não me têm respostas
Apenas sufoco o meu uivado,
O meu ganido em noite de lua cheia
Quando então apenas me recolho: fecho a porta!
E durmo sem saber em que rede fui pescado.

Um comentário:

Ana Carla Guimaraes disse...

Cada vez mais, a forma de "organizar" a vida afasta e adormece sensações das lembranças saudaveis..mas não apaga.