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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

VOZES

O que eu faço com estas vozes todas
Fazendo reboliço dentro de mim?
E as cores da bicicleta enfeitada que eu tinha?
– fitas coloridas, continhas nos raios e espelhos...

Espelhos!!!
O que eu faço com eles que nascem invertidos dentro de mim?
O que eu faço com isso atravessando a minha insônia?
E aquela montanha plantada bem ali na frente,
Como um teiú mordendo sua batata?
E aquela lenda do carneiro de ouro no lombo da montanha?
E a passagem para o fim do mundo?
E aquela da onça que eu vi sem medo e ela nem ligou pra mim?
– As pessoas não acreditavam e nem eu desmentia.

E agora, o que eu faço com isso, se crescem como pêlo?
Se quanto mais me dou ao desespero da razão
cresce mais em mim a imagem do terreiro
e o som daquela assombração na minha insônia
arrastando pela noite o ramo de São João
ou o berro do meu pai estremecendo lá embaixo, no baixio:
– “Vem pra casa moleque”.

O que faço com isso, se cada vez mais distante estou?
E quanto mais distante, mais me chamam vozes assim
Ecoando no baixio das minhas noites...
– “Vem pra casa moleque”.
– “... pra casa moleque”.
– “... casa moleque”.
– “... moleque”.
– “...leque”.
– “...que”.

Um comentário:

Ana Carla Guimaraes disse...

Nossa..sensacional!
Pude ouvir até seus ecos e vozes adormecendo lentamente..numa mistura de sonho, realidade, inquietação e saudade.
Essa emoção pura que nunca vai te abandonar, pois é algo mais forte d que qualquer razão.