Todo retorno de viagem exige esvaziar as
malas. Mas, desfazer malas é tarefa fácil, os objetos graúdos, os marcos
de passagem, os souvenires emblemáticos. Mais do que esvaziar malas, o
retorno das viagens nos impõe a ingrata tarefa de esvaziar os bolsos, as
algibeiras. Raspar os mínimos detalhes do percurso, para ver onde se
esconderam em nós os detalhes que, de tão pequeninos, nos entram,
nos entalham, nos esburacam e nos imprimem os seus matizes, filizes ou
não. Ali, nesses bagacinhos quase invisíveis, os restos de felicidade,
os vestígios de perplexidade, as cumplicidades, as sensações arquivadas
no grude das roupas, nas dobras do corpo. Sim, fomos felizes, a viagem
vale por si. Agora temos só a poeira de existências mínimas, que temos
que sacudir para que o retorno de fato se instaure. Mais do que isto:
para que outra viagem se inicie! No fundo, somos feitos disso!
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