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segunda-feira, 25 de maio de 2009

EVANDRO TEIXEIRA E O JORNALISMO DE SUPERFÍCIE

Evandro Teixeira, um dos mais renomados fotojornalistas brasileiros esteve em Juazeiro. No Centro de Cultura João Gilberto, no dia 22 de maio, abriu a exposição de fotografias do Mural Galeria Euvaldo Macedo, com fotos do livro Canudos 100 anos. Ali o céu se move! Está em todos os lugares, e te olha, e dança por trás dos personagens!
Depois da abertura da exposição mostrou fotos de seu acervo e contou as histórias que as fotografias, por si só não contam. Talvez seja preciso lembrar que, especialmente no fotojornalismo, as fotos são registros que não devem contar tudo, e não contam. A maioria delas exige sempre que se explicite, por outras vias, a narrativa que lhe é inerente! Não se trata do deleite esttético da fotografia. Trata-se do que ela tem para contar. E esta narrativa não pode se desgrudar do próprio autor. O fotojornalismo trás essa marca do autor. Se alguma objetividade deve ser aí discutida, deve reconhecer que ela fala do sujeito também. De suas escolhas, de suas aventuras, do seu campo de guerra.
Parei nas fotos do enterro do poeta chileno Pablo Neruda. Evandro estava no Chile cobrindo os eventos do golpe militar liderado por Pinochet. Cobriu os massacres nas ruas e no Estádio Nacional. Registrou cenas da chacina! Fez fotos da janela da sede do governo, em cuja sala Salvador Allende tombou. E soube que Neruda estava muito mal. Foi ao hospital, encontrou apenas o corpo frio de Neruda sendo preparado para a urna funerária e para o enterro. Era o único fotográfo e decidiu a companhar tudo. A preparação, a transferencia do corpo para outro lugar, para escapar dos militares, o enterro... Quero considerar duas coisas aqui:
a) há fotos que, sem essa narrativa, se tornam fotos banais ou iguais a qualquer outra foto, como a foto de uma pessoa improvisando uma ponte para passar o riacho cheio. Seria uma foto qualquer, se sua narrativa não incluisse o fato de que aquela ponte estava sendo improvisada para permitir a passagem do corpo de Pablo Neruda. A foto é um testemunho a espera de outro, que a completa.
b) e se Evandro Teixeira, como fotojornalista, não soubesse quem era Pablo Neruda? Aqui a objetividade e a competência técnica do fotógrafo dependem de uma coisa chamada "repertório". Chamamos isso, ordinariamente, de "bagagem". Sem isso, ele não seria o único fotojornalista do mundo a ter feito tais fotos. E onde se ensina isso? Em que matéria "objetiva" e "prática" se ensina isso?
Todo jornalista jovem, quer chegar primeiro ao sucesso. Já quer estrear como âncora do Jornal Nacional. Na fotografia, já querem começar com uma premiação internacional. Esquecem dos percursos que todos os bons profisionais tiveram que trilhar, começando entregando cafezinho ou espanando o pó das prateleiras. Recebendo alguns nãos e persistindo! Assim se faz um bom profissional, em qualquer área. Com esforço, dedicação e menos nariz arrebitado!
O fetiche no jornalismo anda junto com o agravamento de sua sperficialidade. A objetividade do texto, o foco no espetacular, inibem a perspectiva mais plural dos contextos. Os grandes nomes não se fizeram em salas com ar condicionado! Mas, ao contrário, com trabalho árduo!
Trabalho árduo, aliás, foi o da comissão formada por Flávio Ciro e pelos seus alunos monitores e voluntários, com destaque para Cecílio e Silvana. Eles realizaram um dos mais importantes acontecimentos do jornalismo no Vale do São Francisco, que foi a vinda de Evandro Teixeira. Mas nem sequer a imprensa local, acotumada ao jornalismo de superfície, compareceu e cobriu o evento.
É uma pena!

7 comentários:

Silvana disse...

Infelizmente e assim mesmo que anda o jornalismo e os estudantes de jornalismo. Fiquei muito feliz com o resultado do trabalho (e obrigada pelo comentario em seu texto), mas a participaçao dos formados, formandos e "formadores" foi lamentavel. E uma pena mesmo restringirmos a nossa profissao ao "ismo" (relacionado a patologia clinica): estrelismo e sensacionalismo.

Luciana disse...

Muito bom Pinzoh seu texto. Realmente a equipe do Mural Galeria tá de parabéns!
Quanto ao não comparecidmento dos prórpios estudantes...depois ninguém reclame que a Universidade não traz nada de novo!!!

Cecilio Bastos disse...

Você toca em um ponto importante professor. Infelizmente, para muitos, fotojornalismo é algo como clicar, congelando uma imagem que vai ficar anexada a uma matéria. Realmente, muito mais que a técnica, o repertório faz grande diferença. Obrigado pelas considerações.

Abraço.

Flavio Ciro disse...

Estou muito satisfeito com o resultado do Evento. Saciado como quem sai de uma mesa farta. Se faltaram alguns "pratos", é porque eles não deviam mesmo estar la. Não me surpreendo mais. Vide....xa pra lá.
Spraich Pinzoh!
Abs

Ana Carla Guimaraes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ana Carla Guimaraes disse...

Parabens Pinzoh!! Sua reflexão é bastante interessante..Sem falar que algumas atitudes também criam muitos preconceitos..Um evento muito especial de fato. Parabéns tbm ao professor Ciro, Cecilio e Silvana, grande sensibilidade!!Eu já tinha assistido ao doc. várias vezes(né prof. Ciro, rs)..o doc. é mto marcante e poder assistir dessa vez ao lado do mestre foi um grande privilegio..Abraços

Jaquelyne Costa disse...

Pinzoh!!
Seu texto é muito claro, tanto que lhe ouvi a voz a dizê-lo.
Esse foi um grande evento jornalístico!
Sim!!
A imprensa se preocupa (quase sempre) em cobrir coisas fúteis e que lhe são de interesse burguês...é uma lástima!
Meus parabéns a Cecílio, Silvana e Flávio Ciro!!!
Eu adorei conhecer essa figura tão importante do nosso país, do nosso fotojornalismo!


Abraços!