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terça-feira, 28 de dezembro de 2010
RESPOSTA
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
OS JOVENS VELHOS

Curioso mesmo são estes jovens! Eles fecham a cara e fazem pose de machões! Exibem os músculos, como trunfos! E são exatamente a mesma coisa, há tanto tempo!
Os poetas, então! Estes encarnam sempre algum personagem de taberna, onde sequer houve taberna um dia. Emulam o ambiente esfumaçado, o lirismo dos bafos de taberna. Mas não saem da frente do computador, comendo besteira. E estão sempre inventando uma dor onde não há. Uma dor que é tão fina, aguda, lustrada, que é só uma dor estética. Brilhante!
Tudo é sofrimento! A poesia é um lugar para distribuir pontapés contra a espinheza do mundo, que, no mundo, é apenas o mundo das letras! A literatura é encarada como uma prisão! Por isso é urgente inventar novas fórmulas literárias libertárias, dar nomes novos e esdrúxulos aos estilos que inventam e cuspir na cara de obras e autores, insultados como páreas.
Em pouco tempo já inventaram mais regras para si e para o mundo que todos os conservadores que dizem combater. Com menos de 25 anos, já estão velhos, cansados, lamuriando a vida! Até já pousam como se fossem a mais importante personalidade do mundo das letras. Portam chapéus e fumam cachimbos. Alguns até emulam uma bengala e uma pequena tortura num dos cantos da boca.
Logo eles, que se insinuam tão jovens, é a velhice que eles parecem desejar e a simulam nos quatro cantos de seus quadrados!
domingo, 26 de dezembro de 2010

sinal pra comprar a prazo
firmar o dito até que seja feito
Cruz-credo: sinal para fechar o peito.
sinal de que todos vamos indo
indo, vindo, rindo ou não, até mais
perambulando entre os sinais
por sinal quero dizer que li errado
o seu sinal fechado, e avancei...
RESSACA 2
Rugas, fome e gastrite me despertam
Enquanto eu peço algum tempo ainda
Pois para mim esta manhã não é bem-vinda!
Sou da noite. Note-se!
Entro nela como num grande lago
Onde tão logo se esbanjam bafos e tragos
Estrago-me entre a fumaça e os odores
Entre encantos, desencantos e quase-amores.
E até esqueço que mais cedo ou que mais tarde
A noite que de início arde, ainda criança
Logo mais balança velha e enrugada e, enfim, finda
E eu desconheço aquelas faces, há pouco lindas.
Mas eu, afoite, me apeguei à noite
E nela espero sempre a eternidade
Entre goles, entrego os meus segredos,
Como se, trôpego, precipitasse a confissão
Descuidado da paixão que nunca míngua.
Confesso que transito entre dois pontos
Zonzo e tonto entre a escassez e o excesso
E agora, nesta cama, dos pés à cabeceira
Nem rastro daquela chama
Que queimei a noite inteira.
Ressaca e fadiga contornam a agonia
O tic-tac, a batida do pedreiro, o assovio...
Por detrás daqueles tetos desce o rio
Por detrás daquele morro sobe o sol
E é um pouco menos luz que eu suplico
É contra a claridade que eu me agito
É contra todos os barulhos que eu grito.
Manhã que, se não fosse o mal-estar, eu saudaria!
Mas fico teso, a mão no saco, retardando o dia.
ANTES DE DORMIR

sábado, 25 de dezembro de 2010
Ainda Menos
sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
Empréstimo a Mário Quintana
Quantas vezes a gente, em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, óculos procura
Tendo-os na ponta do nariz!
DAS UTOPIAS
Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!
MARIO QUINTANA
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
Anti-Mensagem de Natal

terça-feira, 21 de dezembro de 2010
VOZES
Fazendo reboliço dentro de mim?
E as cores da bicicleta enfeitada que eu tinha?
– fitas coloridas, continhas nos raios e espelhos...
O que eu faço com eles que nascem invertidos dentro de mim?
O que eu faço com isso atravessando a minha insônia?
E aquela montanha plantada bem ali na frente,
Como um teiú mordendo sua batata?
E aquela lenda do carneiro de ouro no lombo da montanha?
E a passagem para o fim do mundo?
E aquela da onça que eu vi sem medo e ela nem ligou pra mim?
– As pessoas não acreditavam e nem eu desmentia.
E agora, o que eu faço com isso, se crescem como pêlo?
Se quanto mais me dou ao desespero da razão
cresce mais em mim a imagem do terreiro
e o som daquela assombração na minha insônia
arrastando pela noite o ramo de São João
ou o berro do meu pai estremecendo lá embaixo, no baixio:
– “Vem pra casa moleque”.
O que faço com isso, se cada vez mais distante estou?
E quanto mais distante, mais me chamam vozes assim
Ecoando no baixio das minhas noites...
– “Vem pra casa moleque”.
– “... pra casa moleque”.
– “... casa moleque”.
– “... moleque”.
– “...leque”.
– “...que”.
FORA D'ÁGUA
Nem pensei se querem ouvir-me
Sei apenas que me vem, de vez em quando,
Uma vontade de retorno...
De voltar a correr pela caatinga em tempo de chuva
De correr descalço pelas grotas,
Pelos córregos e riachos
De olhar aquelas ervas frágeis
Rompendo o casco endurecido do chão
Sem mesmo querer entender aquilo que ocorre ali
Sem mesmo pensar se não é a terra que se abre
Para que aquelas ervas frágeis amanheçam...
E essa lua que me mira?
Essa lamparina insistente contra mim. Que não pisca.
Às vezes tenho medo que ela me enfeitice: fecho a porta.
Tenho medo de já ser tão outro
Que já não caiba naquela vereda estreita
Que já não reconheça a correnteza
E nem me apeteça mais o cheiro de terra molhada...
Se me pergunto quem sou e aonde vou
Não o faço a vocês que não me têm respostas
Apenas sufoco o meu uivado,
O meu ganido em noite de lua cheia
Quando então apenas me recolho: fecho a porta!
E durmo sem saber em que rede fui pescado.